A monilíase chegou ao município de Urucurituba, no Amazonas, próximo à divisa do Pará, um dos maiores produtores de cacau do Brasil e responsável por exportar amêndoas às indústrias que processam o produto na Bahia. Não há mais tempo para postergar medidas urgentes que precisamos tomar para evitar que a cultura sofra enormes prejuízos, justamente no momento em que as regiões produtoras experimentam o crescimento do preço no mercado internacional e a diversificação da cadeia produtiva.
A doença afeta plantas do gênero Theobroma, como o cacau (Theobroma Cacau) e o Cupuaçu (Theobroma Grandiflorum), e causa perdas de até 100% da produção, pois ataca o fruto e o fungo tem grande capacidade de disseminação, mas não causa danos à saúde humana. A praga já está presente no Equador, Colômbia, Venezuela, Peru e Bolívia.
O problema é antigo, mas ainda não conseguimos possuir as ferramentas adequadas no combate à praga. Quando fui secretário estadual de Agricultura, firmei, em 2012, convênio de cooperação técnica com a Secretaria de Agricultura do Acre, justamente onde começou o problema em nosso país, para ações preventivas que evitassem a disseminação da monilíase.
Fizemos um pacto com todos os estados do Norte, pois é a região onde a praga pode entrar, e construímos com a ADAB (Agência de Defesa Agropecuária da Bahia) um plano com estratégias de contingenciamento para tentar evitar ou prorrogar a chegada da monilíase à Bahia.
O momento é de mobilização total e os governos estaduais e federal devem atuar junto aos municípios produtores numa verdadeira operação de guerra para barrar o avanço da monilíase. Precisamos aumentar a fiscalização em portos, aeroportos e terminais rodoviários dentro do território baiano.
É necessário criar um grupo de trabalho com técnicos treinados, assim como foi feito para não permitir que animais com aftosa entrassem em território baiano, para não deixar que a monilíase entre em território baiano. Esse esforço precisa envolver também a indústria processadora, produtores e secretários de agricultura dos municípios produtores. Todos têm que estar envolvidos.
Enquanto fazemos essa barreira fitossanitária, precisamos investir em pesquisas que nos ofereçam um controle biológico e químico. Além disso, é necessário recursos para a EMBRAPA enviar aos países latinos com a presença da monilíase as variedades que temos aqui resistentes a outras pragas para possamos observar qual é a mais adaptada contra a monilíase.
Paralelo a essa medidas, defendo também criarmos o FUNCACAU, assim como funciona, no oeste da Bahia, o PRODEAGRO, instituído quando eu era secretário estadual de Agricultura, que vai servir para investirmos em pesquisa e infraestrutura. Esse fundo é capitalizado por meio de renúncia fiscal do governo estadual e dos produtores e gerido pela iniciativa privada.
Com o sucateamento da CEPLAC, temos um grande problema na guerra contra a monilíase. Sem a difusão da tecnologia junto ao produtor, essa nova praga pode causar graves problemas à economia baiana. Por isso, precisamos de um pacto entre os governos federal, estadual e municipais para termos técnicos capacitados para oferecer assistência técnica que ajudem no controle e resistência à praga neste momento de soerguimento com preços competitivos na atividade cacaueira.
Tenho total confiança na equipe da ADAB e nas câmaras setoriais baiana e brasileira para conseguirmos oferecer soluções aos produtores e evitarmos que a praga crie sérios prejuízos econômicos e sociais à economia da cadeia produtiva do cacau.