As cenas do desastre que tomam conta de quase todo o Rio Grande do Sul têm sido destaque nos jornais, TVs e internet desde o início de maio. É desesperador assistir famílias perderem vidas e tudo o que construíram ao longo de anos de trabalho. No campo o cenário é de devastação total.
Além de causar sérios prejuízos à economia, os impactos dos desastres na agropecuária trazem insegurança alimentar e aumento do valor dos produtos. Segundo a CNM (Confederação Nacional dos Municípios) divulgou em 11 de maio, ainda sem o recuo das águas, as perdas no setor já eram estimadas em R$ 1,7 bilhão. Os dados são parciais e os números ainda serão maiores, com certeza
Um relatório divulgado pela FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura) em outubro de 2023 mostra que a agropecuária em todo o mundo sofreu perdas de US$ 3,8 trilhões devido a desastres naturais nos últimos 30 anos. Esse total equivale a uma perda média de US$ 123 bilhões por ano, ou 5% do produto interno bruto agrícola global anual.
Quando as chuvas começaram a castigar o Rio Grande do Sul, no final de abril, os produtores de arroz do Estado, responsável por cerca de 70% da produção nacional, finalizavam a colheita do cereal. Estima-se que mais de 114 mil toneladas foram perdidas. A área submersa com a cultura atualmente é de 22,9 mil hectares.
A produção de soja perdida pode ficar entre 2,5 milhões e cinco milhões de toneladas, fora o que será descartado em silos e armazéns atingidos pela enchente. Antes das chuvas faltava colher 30% da produção. Esse prejuízo pode acarretar no aumento dos preços ao consumidor do óleo e das carnes de frango e de bovinos. O insumo é fundamental na alimentação animal.
Responsável por 11% da produção de carne de frango e 20% da suína do país, o Rio Grande do Sul teve 10 unidades frigoríficas atingidas pelas chuvas. A maioria já retornou às atividades total ou parcialmente.
Outro fator preponderante para o aumento dos custos de produção é o estrago feito na infraestrutura gaúcha. Estradas e a rede elétrica danificadas serão grandes complicadores. E a indústria, também fortemente impactada, não terá como processar os produtos que vêm do campo.
Segundo a FARSUL (Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul), a agropecuária responde por 40% do PIB (Produto Interno Bruto) do Estado. Em 2022 os números foram de R$ 98,6 bilhões, com o arroz e a soja como carro-chefe. Não é difícil compreender os terríveis impactos que essa devastação no setor causará à economia local. Mas os impactos serão sentidos em todas as regiões.
Conheço os polos agrícolas do interior do Rio Grande do Sul e posso afirmar que o impacto da enchente na economia é muito maior pelo fato de agricultura familiar ser predominante no Estado, que forma uma classe média rural. As conseqüências para os setores da indústria, comércio e serviços também será catastrófico.
Na indústria o caos também é enorme. A FIERGS (Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul) divulgou que 91% das fábricas estavam embaixo d’água, o que vai impactar na arrecadação do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços).
O momento agora é de salvar as vidas em riscos e tentar trazer o máximo de normalidade aos mais de 400 municípios afetados pela enchente histórica, mas logo todas as esferas do setor público têm a obrigação de apresentar políticas públicas que permitam a recuperação da agropecuária e da indústria gaúcha a médio e longo prazo. ASCOM/Dep.Eduardo Salles