Blog do Jorge Amorim

Após acordo com MPT, empresário que mandou funcionárias filmarem voto na BA publica vídeo de retratação e admite: ‘não foi uma brincadeira’

Na terça-feira (25), ele assinou um Termo de Ajuste de Conduta (TAC) com o Ministério Público do Trabalho (MPT-BA), que apura o caso. Além da retratação, ele terá que pagar uma indenização por danos morais coletivos no valor de R$ 150 mil.

O objetivo do ruralista, que atua no oeste da Bahia, era que as funcionárias comprovassem que votaram conforme imposição deleNo vídeo publicado nesta quarta (26), ele admite que o pedido feito aos seus funcionários não foi uma brincadeira, como chegou a dizer anteriormente.

“Bom dia a todos. Eu venho a público para esclarecer a toda a sociedade brasileira que assediar trabalhadores a votar ou deixar de votar em qualquer candidato é ilegal. Nenhum empregador pode interferir no livro exercício do voto. Minhas declarações anteriores devem ser desconsideradas”, diz.

“Não foi uma brincadeira e por isso me comprometi a me retratar e a indenizar a sociedade pela ilegalidade praticada”, reforça.

 

O empresário ainda destaca no vídeo que filmar o voto é ilegal e que ninguém pode exigir do eleitor a comprovação do voto.

“Tanto as pessoas que trabalham para mim, quanto aquelas que são empregadas em outras empresas não devem se sentir com agidas. Registrar o voto por filmagem é ilegal e ninguém pode exigir do trabalhador que ele declare o seu voto ou comprove em quem voltou para manter o emprego ou para ter qualquer vantagem”, diz.

Empresário ruralista publica vídeo de retratação — Foto: Redes Sociais

Empresário ruralista publica vídeo de retratação — Foto: Redes Sociais

Por fim, o empresário diz que em caso de assédio eleitoral, as pessoas assediadas devem denunciar no Ministério Público do Trabalho e finaliza o vídeo reforçando que o voto é livre.

“O trabalhador que se sentir coagido a votar ou deixar de votar deve denunciar o caso ao Ministério Público do Trabalho e o patrão que cometer essa ilegalidade vai responder juridicamente os seus atos. O voto é livre. Todo o voto é livre”, diz.

Diferente dos vídeos publicados anteriormente em sua rede social para comentar o caso, onde falava com uma bandeira do Brasil com o rosto do presidente e candidato à reeleição Jair Bolsonaro, Adelar Eloi mudou o cenário da gravação divulgada nesta quarta

Indenização deve ser paga em 30 dias

Empresário denunciado por assédio eleitoral na Bahia terá que pagar danos morais

Empresário denunciado por assédio eleitoral na Bahia terá que pagar danos morais

O acordo assinado com o MPT previa além de uma retratação pública, reforçando o direito de liberdade de voto, o pagamento de indenização por danos morais coletivos no valor de R$ 150 mil. O dinheiro deverá ser depositado em até 30 dias na conta do Fundo de Promoção do Trabalho Decente (Funtrad).

Conforme o órgão, os recursos que serão destinados para projetos que fortalecem o trabalho digno na própria região onde Adelar Eloi tem diversas propriedades de grande porte. Ele é do município de Formosa do Rio Preto.

O empresário recebeu prazo de 48 horas, a contar da assinatura do termo, para publicar nas redes sociais um vídeo em que esclarece que assediar trabalhadores é uma prática ilegal. Além disso, ele deverá orientar todo trabalhador que se sentir constrangido pelo patrão a denunciar o caso ao MPT.O que é assédio eleitoral e como denunciar

O que é assédio eleitoral e como denunciar

No TAC, o ruralista se compromete a atender dez obrigações, entre as quais a de não incitar o assédio eleitoral, não ameaçar empregados que não votem em determinado candidato e não orientar o voto deles. Em caso de descumprimento, ficou estabelecida multa de R$ 50 mil por cada item descumprido.

g1 entrou em contato com o ruralista para pedir um posicionamento, mas ele não quis se manifestar sobre o caso.

Relembre o caso

 

Empresário suspeito de orientar funcionárias a colocar celular no sutiã para filmar voto na BA vai pagar indenização por danos morais — Foto: Reprodução/Redes Sociais

Empresário suspeito de orientar funcionárias a colocar celular no sutiã para filmar voto na BA vai pagar indenização por danos morais — Foto: Reprodução/Redes Sociais

Áudio mostra conversa em que patrão confessa ter orientado funcionárias a filmar voto

Na última quarta-feira (19), o g1 teve acesso ao áudio do ruralista, em que ele diz ter orientado funcionárias a colocarem “o celular no sutiã” para filmar o voto na urna eletrônica e comprovar, posteriormente, que votaram conforme imposição dele.

Em um trecho, ele afirmou: “Tinham cinco [funcionários que não concordavam], dois voltaram atrás. Das outras 10 que estavam ajudando na rua, todos tiveram que provar, filmaram nas eleições. Se vira, entrem com o celular no sutiã, que seja, vai filmar, se não, rua”.

Adelar Eloi ainda revelou que duas mulheres, que não aceitaram a ordem, o procuraram para dizer que vão filmar os votos no segundo turno. “Duas não queriam e estão para fora, hoje já estão falando ‘eu vou votar no Bolsonaro agora’. Então vota, primeiro prova, que nós contratamos de novo”, afirmou.

Adelar Eloi Lutz publicou um vídeo em uma rede social, nesta quarta-feira (19), onde fala sobre o ocorrido — Foto: Reprodução/Redes Sociais

Adelar Eloi Lutz publicou um vídeo em uma rede social, nesta quarta-feira (19), onde fala sobre o ocorrido — Foto: Reprodução/Redes Sociais

Ainda na quarta-feira, o empresário disse que o áudio se tratava de uma “brincadeira”. Por telefone, ele afirmou à reportagem que não iria se posicionar sobre o caso. No entanto, publicou um vídeo em uma rede social onde falava sobre o ocorrido. [Veja mais abaixo]

“Mandei para várias pessoas, mas não sei como foi parar em outros lugares. Jamais ia fazer isso [demitir alguém]”, garantiu.

 

Empresário suspeito de assédio eleitoral na BA diz que áudio se tratava de uma brincadeira

Empresário suspeito de assédio eleitoral na BA diz que áudio se tratava de uma brincadeira

Ainda no vídeo, o empresário disse que alguns de seus funcionários têm familiares que apoiam o candidato à presidência do partido oposto ao que ele vota.

“Eu tenho gente que está trabalhando aqui que a família toda é PT, eu botei para fora? Eu não, só disse que tem que analisar e tal, mas não tem pressão nenhuma”, afirmou.

Primeiro caso no oeste da Bahia

 

Em setembro deste ano, a empresária ruralista Roseli Vitória Martelli D’Agostini Lins assinou acordo com o Ministério Público do Trabalho, onde se comprometeu a não praticar atos de incitação ao assédio eleitoral.

Um inquérito foi aberto depois que ela postou um vídeo orientando que agricultores “demitam sem dó” os funcionários que votarem em Lula, candidato à presidência pelo Partido dos Trabalhadores (PT).

Roseli Vitória é de Luís Eduardo Magalhães, no oeste da Bahia. Ela também teve que fazer uma retratação pública, nas redes sociais, e custear uma campanha de esclarecimento, que será veiculada emissoras de rádio da região onde ela mora, e também na capital baiana.

MPF apura se há assédio eleitoral em declarações de ruralistas no oeste baiano

Na rede social, Roseli Vitória se apresenta como “aposentada, conservadora, avó de dois meninos maravilhosos, entusiasta pelos rumos que o Brasil está trilhando”. Em uma das postagens, feita no dia 26 de agosto, Roseli orienta os colegas ruralistas:

“Façam um levantamento. Quem for votar no Lula, demitam, e demitam sem dó, porque não é uma questão de política, é uma questão de sobrevivência. E você que trabalha com o agro e que defende o Lula, faça o favor, saia também.”

 

Na época da publicação, o g1 procurou a empresária, mas não obteve retorno.

Veja mais notícias do estado no g1 B


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