Blog do Jorge Amorim

O que os trabalhadores têm a comemorar no dia do trabalho? Por: Profº Dirlêi Bonfim


As datas significativas para os trabalhadores geralmente não nascem de um evento feliz da história, mas representam marcos da luta por melhores condições de trabalho. Com o 1º de maio, a situação não é diferente, pois desde 1886 e ste dia lembra as dezenas de trabalhadores mortos pela repressão policial, daquele país que se considera a maior e melhor democracia do mundo, os Estados Unidos. Ao ser transposto para a realidade brasileira, através dos incipientes movimentos operários. Do início do século XX, o dia do trabalho não perdeu a sua característica de dia de luta e reivindicação por melhores condições de vida, para as classes trabalhadoras.

Relatório da Oxfam destaca a crescente concentração de renda no mundo, no qual 1% das pessoas tem o mesmo volume de recursos que os 99% mais pobres.
Um novo relatório da Oxfam, divulgado em 31/janeiro/2018, revela que o fosso material entre o 1% e os 99% da humanidade, respectivamente, o topo e a base da pirâmide da riqueza mundial, torna-se cada vez maior, com consequências nefastas para a sociedade.

O documento também capta uma tendência preocupante: o abismo entre ricos e pobres está aumentando em uma velocidade muito maior do que a prevista.
Baseado no Credit Suisse Wealth Report 2016 e na lista de milionários da Forbes, o relatório alerta que apenas oito homens concentram a mesma riqueza do que as 3,6 bilhões de pessoas que fazem parte da metade mais pobre da humanidade.

Segundo a Oxfam(2018), os oito primeiros colocados na lista da Forbes são o criador da Microsoft, Bill Gates (75 bilhões de dólares), Amancio Ortega (67 bilhões), da grife espanhola Zara; Warren Buffet (60,8 bilhões), da Berkshire Hathaway, Carlos Slim (50 bilhões), das telecomunicações e Jeff Bezos (45,2 bilhões), da Amazon. Figuram ainda o fundador do Facebook, Mark Zuckerberg (44, 6 bilhões), Larry Ellison (43,6 bilhões), da Oracle, e, por fim, Michael Bloomberg (Bloomberg LP), com 40 bilhões.

Tal riqueza é, na maioria dos casos, hereditária. Nas próximas duas décadas, 500 indivíduos passarão mais de 2,1 trilhões de dólares para seus herdeiros, uma soma maior do que o PIB de um país como a Índia, que tem 1,2 bilhão de habitantes.

Os super-ricos estão preocupados com as necessidades dos trabalhadores…?

Intitulado “Uma economia humana para os 99%”, o relatório analisa de que maneira grandes empresas e os “super-ricos” trabalham para acirrar o fosso da desigualdade. Não há nenhuma preocupação com a classe trabalhadora.

A renda de altos executivos, frequentemente engordada pelas ações de suas empresas, tem aumentado vertiginosamente, ao passo que os salários de trabalhadores comuns e a receita de fornecedores têm, na melhor das hipóteses, mantido-se inalterado e, diminuídos sistematicamente.

O estudo aponta que, atualmente, o diretor executivo da maior empresa de informática da Índia ganha 416 vezes mais que um funcionário médio da mesma empresa.

Além disso, os altos lucros das empresas são maximizados pela estratégia de pagar o mínimo possível em impostos, utilizando para este fim paraísos fiscais ou promovendo a concorrência entre países na oferta de incentivos e tributos mais baixos.

“As alíquotas fiscais aplicadas a pessoas jurídicas estão caindo em todo o mundo e esse fato – aliado a uma sonegação fiscal generalizada – permite que muitas empresas paguem o menos possível em impostos”, afirma o documento.

Além disso, há a obsessão em manter no mais alto patamar os retornos financeiros para os acionistas das empresas. Na década de 1970 no Reino Unido, por exemplo, 10% dos lucros eram distribuídos aos acionistas. Hoje, o percentual é de 70%.

Homem busca comida no lixo em Lagos, na Nigéria, em 4 de janeiro/2018. O país africano é um dos vários que vai colocar em prática políticas de renda mínima. Será que o problema da fome é apenas um problema do continente Africano, ou temos fome nos quatro cantos do planeta…? Em pleno século XXI, seres humanos morrendo de fome nos quatro cantos do planeta. Uma vergonha para a raça humana.

Outra estratégia perversa é utilizar o trabalho análogo à escravidão para manter os custos corporativos baixos. A Organização Internacional do Trabalho (OIT) estima que 21 milhões de trabalhadores forçados geram cerca de US$ 150 bilhões em lucros para empresas, todos os anos. As pesquisas citadas pelo relatório da Oxfam também revelam como o 1% beneficia-se da distribuição desigual da riqueza e utilizam-se de sua influência material e política para continuar a gozar de tal benefício. Segundo Leonard (2007), “… os governos estão a serviço das corporações” e não da sociedade, o que ratifica o fosso social global.

Entre os artifícios utilizados estão o financiamento de candidaturas políticas, da atividade de lobby e, indiretamente, o custeamento de centros de estudos e universidades que visam produzir “narrativas políticas e econômicas” compatíveis com as premissas que favorecem os ricos.

“Os bilionários do Brasil fazem lobby para reduzir impostos e, em São Paulo, preferem usar helicópteros para ir ao trabalho, evitando os engarrafamentos e problemas de infraestrutura enfrentados nas ruas e avenidas da cidade”, diz o documento.

A Oxfam alerta que a crescente desigualdade produz efeitos catastróficos nas sociedades, aumentando a criminalidade, a insegurança e, ao mesmo tempo, minando iniciativas de combate à pobreza. “Ela (a desigualdade) gera mais pessoas vivendo com medo do que com esperança”, não dá para ter esperança com fome… conclui a organização.

No Brasil, em 13 maio de 1988 foi sancionada a Lei Áurea, que tinha por finalidade libertar os escravos da elite burguesa dominante do século XIX, os cafeicultores. Porém os negros antes presos nas senzalas passaram a ficar presos nas favelas e refém de subempregos, modo de trabalho que persiste até os dias de hoje no Brasil na agricultura como por exemplo nos canaviais ou até mesmo nos grandes conglomerados urbanos em fábricas fazendo uso de mão de obra barata e clandestina.

A escravidão era por meio de trabalhos forçados, já o subemprego nada mais é que um eufemismo para escravidão, que deixa a impressão de poder de escolha, porém muitas vezes o trabalhador contraí dívidas que não pode pagar ficando atrelado ao contratante, o desemprego transforma este modo de trabalho como a única opção de uma parte da população convivendo com os baixos salários e as péssimas condições de trabalhos, esses aspectos mostram que assim como a escravidão este modo de trabalho é desumano.

Assim como no feudalismo, mercantilismo e nas revoluções industrias a história mostra que o poder na mão de poucos significa exploração de muitos, se faz necessário então políticas de desconcentração de renda, uma reforma agrária efetiva e políticas de inclusão social e valorização da vida, quando o ser humano for mais importante que capitais financeiros talvez esta exploração seja erradicada. “Tudo aquilo que temíamos no socialismo – perder nossas casas e posses, nossas economias, ter de trabalhar duro por um salário miserável – se realizou graças ao capitalismo.” (Bernie Sanders), candidato à casa branca/EUA em 2016.

 

*Dirlêi Andrade Bonfim – sociólogo e Professor –

[email protected]


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