Se você perguntar sobre o início para qualquer antigo morador, vai ouvir: “antigamente, aqui era tudo mato!” Pois bem, longe de querer aqui contar na íntegra toda a história do distrito de Barra Nova, apenas faço parte dela assim como outros milhares de habitantes do perímetro urbano e rural. Cresci ouvindo histórias sobre meu tio Rogaciano Andrade (Gazim), já falecido, que juntamente com sua esposa Idalicia Andrade foram os principais pioneiros da fundação.
Rogaciano se mobilizou ativamente para atrair moradores e desenvolver independência do arraial de Novo Horizonte. Sim, o primeiro nome de Barra Nova foi esse, pois ele era motorista de ônibus, que sorte a nossa que ele mudou de ideia. No início da década de 70, Gazim foi eleito vereador de Barra do Choça. Vereador numa época que não ganhava um centavo para sê-lo. Era simplesmente por vontade real de ser representante do povo, além de ter muita disposição cívica e cidadã para o mandato.
Isso foi fundamental para o desenvolvimento de Barra Nova, já que a política está vinculada ao meio social. O que se recebia nem era título de vereador, mas um diploma licenciando atuação (vide foto abaixo.) (Válido lembrar que, nessa época, o Brasil estava sob governo de um regime militar, as leis civis, jurídicas e políticas eram diferentes das de hoje pós CF/88.)
Em 1999, Barra Nova passou a ser oficialmente distrito de B. do Choça, tal como se mantém até a presente data. Hoje, as tradições que temos se encaixam dentro da macrocultura nordestina, tais como: festas juninas, com destaque para danças de quadrilhas, quermesses escolares e festa de São Pedro na praça; festejos religiosos cristãos ao longo do ano; festejos do reisado: grupos musicais que compõe ternos de reis; eventos caseiros de cariru/caruru; festas de cavalgadas; esportes (futebol, futsal, handebol…) e as tradicionais romarias de peregrinação pelas “lapas”: aquele povo querido de fé que sai animado cantando, volta cantando e soltando fogos.
Além dos “causos” que os mais velhos contam e provam com fotografias sobre meados da década de 60 a 80, ainda na década de 90, durante minha infância, lembro-me que havia por aqui mais ações culturais como festas de argolinhas; concurso Miss Barra Nova; desfiles no dia 7 de setembro; brincadeiras coletivas de ruas (pau de sebo, corrida de saco etc); 25/12 à tarde com papai noel nas ruas jogando brinquedos e doces; vinham mais parques e circos (os circos eram montados onde hoje é quadra da Sete). Por que não há mais? Não sei dizer…Enfim, embora com pouca preservação ecológica de matas ciliares, para nossa alegria e de outros, moramos num lugar ambientalmente verde, no topo frio de altas montanhas. No inverno, somos contemplados com o friozinho úmido com aquela cerração que só aqui tem (nevoeiro); nos dias quentes, somos compensados com noites frias. Clima bom! O lugar é cheio de nascentes de águas que saem daqui para desaguar na Barragem Água fria I e na Água fria II, esta que abastece toda a cidade de Vitória da Conquista e Belo Campo. No mais, ficam aqui pelos rios e cachoeiras… (E a famosa cachoeira rasga-short da Cavada?)Outras famílias tiveram importante papel no desenvolvimento inicial do distrito, algumas que inclusive já moravam no local antes da década de 60, porém que não se mobilizavam para tornar o lugar um espaço urbano e mais habitado como Rogaciano, com ajuda de muitos, assim o fez. Por isso, não entrarei no mérito de citar nomes dos primeiros moradores, pois há algumas controvérsias. (Se alguém por conhecimento da época, quiser tecer comentários, à vontade!)
A data escolhida para aniversário foi 31 de março de 1968 quando houve – para marcar a relativa independência do local já com bom número de habitantes – a primeira feira livre realizada no domingo de manhã, tradição que se mantém até os dias atuais. A economia local teve início com a comercialização de bananas e extração de madeiras para região vizinha. Posteriormente, se expandiu em pequena escala com a agricultura e pecuária, mas principalmente com o café, uma vez que Barra Nova era/é extensão territorial da terra do café (Barra do Choça).Caso se emancipe nos anos vindouros, a idade de Barra Nova passará a ser contada do zero a partir do dia que se tornar cidade (como Barra do Choça que tem 57 anos de emancipação política.) Assim, esse período retroativo de surgimento pertencerá aos fatos anteriores à emancipação, guardado dentro do mesmo baú das histórias do tempo que aqui era tudo mato! Sem mais, finalizo com parabéns a Barra Nova pelo seu cinquentenário de fundação!
*Geisa Andrade é natural de Barra Nova – Graduada em Letras pela UESB, especialista em Educação Especial e atualmente mestranda em Linguística – UESB