Metade dos 65.602 homicídios ocorridos no país em 2017 concentraram-se em 2,1% dos municípios brasileiros, segundo o Atlas da Violência 2019 – Retratos dos Municípios.
SÃO PAULO
O Brasil é recordista mundial em violência letal. Ainda que os dados de homicídio sejam desafiantes, parecem menos intransponíveis à luz das informações apresentadas nesta segunda-feira (5) pelo Atlas da Violência 2019 – Retratos dos Municípios.Apenas 2,1% dos municípios brasileiros concentraram 50% dos 65.602 homicídios ocorridos no país em 2017, segundo o estudo realizado pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) em parceria com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Isso quer dizer que 32.801 mortes ocorridas naquele ano se aglomeraram em 120 cidades do país. O Brasil tem, ao todo, 5.570 municípios.
“O Brasil concentra 14% dos homicídios do planeta, e acabar com a nossa violência pode parecer algo inviável”, avalia o economista Daniel Cerqueira, coordenador do Atlas.“Mas, quando os focos da violência letal são identificados, fica claro que o desafio depende de uma política pública focalizada, instruída pela inteligência.”
Cerqueira cita um estudo prévio em que análise dos municípios mais violentos do país demonstrou que metade dos homicídios ocorridos ali estavam concentrados em menos de 10% dos bairros das cidades. “Com isso, a gente não deveria falar em municípios mais violentos, mas em locais com meia dúzia de bairros violentos”, explica ele.
Um exemplo é Luziânia, cidade goiana listada entre as com mais mortes. Segundo Arthur Trindade Maranhão, professor da UnB (Universidade de Brasília), “quatro bairros concentram metade dos homicídios de Luziânia. Só Jardim Ingá tem 35% dos casos”.Para Cerqueira, isso quer dizer que, “no lugar de querermos mudar o Brasil de uma hora para a outra, é possível mudar uma rua ou um bairro, e isso terá impacto direto nas taxas de homicídio, utilizando recursos escassos de forma mais efetiva”. * Folha de São Paulo