Paloma Prates da Cunha foi arrastada pela avalanche de rejeitos da Vale, mas perdeu o marido, e seu filho e sua irmã estão desaparecidos
Paloma Prates da Cunha durante o resgate no lamaçal e 8 dias depois. Após 4 dias internada, está com o nariz e o osso esterno (peito) quebrados e o corpo cheio de hematomas, escoriações e cortes — Foto: Carlos Amaral/G1
“Estava muito cansada. Não conseguia me movimentar muito bem. Estava com dor no peito e não conseguia respirar direito”, relembra Paloma Prates da Cunha.
A auxiliar de cozinha foi levada ao hospital e ficou 4 dias internada. Ainda se recupera do nariz e do osso esterno (peito) quebrados, e o corpo está cheio de hematomas, escoriações e cortes.
Mas a dor maior é a morte do marido Robson, 26 anos, e do desaparecimento de seu bebê e único filho, Heitor, 1 ano e 6 meses, e da irmã caçula Paola, de 13 anos.
“No momento, a única coisa que eu queria era ter minha família do meu lado. Se alguém souber do meu filho ou irmã entre em contato com a gente”, diz Paloma
Paloma se recupera de hematomas em casa após quatro dias internada. — Foto: Carlos Amaral / G1Minas
Todos os quatro estavam em casa, que ficava perto da Pousada Nova Estância, também devastada pelo tsunami de rejeitos da Mina do Feijão. Os corpos do donos da pousada foram encontrados, mas ainda é incerto o número de vítimas entre as dezenas de hóspedes e funcionários.
O marido estava de férias, o bebê estava brincando pela casa, e a irmã tinha ido visitá-la.
Mapa: Paloma Prates da Cunha estava perto da Pousada Nova Estância e foi resgatada na ponte da linha de trem — Foto: Juliane Souza/Editoria de Arte G1
O bebê e único filho de Paloma Prates da Cunha, Heitor, de 1 ano e 6 meses, e a irmã caçula Paola, de 13 anos, que desapareceram no tsunami de lama de Brumadinhoos. — Foto: Arquivo Pessoas
Paloma conta que não entende ainda como sobreviveu à avalanche de lama. Repetindo que seria retirada por Deus, a auxiliar de cozinha diz ter tomado impulso em um pedaço de madeira e agarrado ao que viu pela frente. Neste momento, entrou em ação o “anjo”, Claudiney Coutinho, funcionário da Vale que fazia manutenção nos trilhos da ferrovia e localizou Paloma. Ele atirou uma corda e pediu para que tivesse calma, para respirar, que ela iria sair da correnteza.
“Quero muito poder encontrá-lo. Eu ouvi a voz dele me chamando naquela hora. Na verdade, não sei nem o que vou dizer. Só no momento que a gente se encontrar que eu vou conseguir colocar pra fora”, afirmou Paloma
Funcionário da Vale conta como conseguiu salvar uma mulher da lama
Com a casa destruída, ela mora na casa dos tios em Ibirité, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Mas já pensa em voltar ao local da tragédia. Lá, viveu por 4 anos. A pequena casa que tinha galinhas, cachorros e horta no quintal.
Tios receberam Paloma em Ibirité. — Foto: Carlos Amaral / G1 Minas
Disse que só após ter sido entrevistada pela apresentadora Ana Maria Braga, no programa Mais Você, que a Vale entrou em contato. Ofereceram comida, assistência psicológica e falaram sobre o cadastro para receber a doação da mineradora. “Mas só me ligaram porque eu dei a entrevista. Meu pai, que perdeu a minha irmã, até hoje eles não tinham procurado. ”
Ela conta que se falava sobre o risco do rompimento, mas os moradores confiavam a empresa. “Eles vieram uma vez, fizeram o levantamento, anotaram nossos bens. Eles garantiam que nunca ia acontecer.” Mas critica a falta de ação preventiva e diz que a mineradora deveria ter desapropriado a região. “Se tinha o risco, deviam ter desapropriado. Se isso tivesse acontecido, teria agora só o prejuízo material, não tínhamos perdido tantas vidas. ”
Ela ainda conta que no dia do treinamento de retirada dos moradores, não ouviu nenhuma sirene e que foi alertada por um amigo pelo telefone que o treinamento estava acontecendo. “Eles não usaram sirene, usaram essas buzinas de carnaval. Agora, falam que a sirene foi engolida antes pela lama, mas ela nunca foi tocada pra falar que ela existia. ”