Pesquisa Datafolha divulgada pela Folha de S. Paulo coloca em números um fato que é percebido e que já foi tratado em artigo e vídeo pelo DCM: o desinteresse dos brasileiros pela Copa do Mundo.
Segundo a pesquisa, 53% dos brasileiros afirmaram não ter nenhum interesse pelo mundial de futebol. Às vésperas da Copa de 1994, ano em que essa pesquisa foi feita pela primeira vez, apenas 20% dos brasileiros se declaravam desinteressados pela Copa.
O jornal especula que o desinteresse poderia ter alguma relação com a economia fraca e a ressaca da paralisação dos caminhões, que travou o país.
Mas é mais do que isso: a apropriação pelos golpistas e manifestoches de um patrimônio nacional, a camisa da Seleção Brasileira.
A imagem simbólica da usurpação é o voto da deputada Cristiane Brasil, do PTB, a favor do impeachment,em maio de 2016. Lá estava ela, vestindo a camisa da CBF, com o pai ao fundo, votando em nome dele, da verdade e da democracia pela abertura do processo contra Dilma, sem crime de responsabilidade.
Cristiane não tinha relevância política, mas peso simbólico: com a camisa amarela, representava todos aqueles que foram às ruas vestidas como ela. Gritaram contra a corrupção, mas o que queriam mesmo tirar Dilma Rousseff do Planalto sem crime de responsabilidade.
Conseguir pela violência institucional o que não tinham conseguido pela força do voto.
Com a experiência de quem disputou uma Copa do Mundo e participou da campanha das diretas, o ex-jogador Casagrande alertou para o oportunismo do uso de um símbolo do esporte que é a paixão nacional para uma ação política que resultou no impeachment.
“Oportunistas se apoderam da camisa como se ela fosse uma representação deles, mas ela não é ligada a partido ou movimento algum”, disse ele, em entrevista ao UOL. “Todo mundo que faz isso é oportunista”.
Casagrande disse mais: “Desde que comecei a participar da política brasileira, nunca separei a camisa da seleção da política. Independentemente de qualquer situação, a camisa da seleção é política”, afirmou.
Em outras palavras: por ser política, por ter um sentido de representação, não pode estar vinculada à parcialidade. A camisa amarela cai bem hoje, por exemplo, em Sergio Moro ou sua esposa, mas jamais em uma pessoa isenta.
Muito menos em progressistas.
Casagrande comparou o movimento que resultou no impeachment com outro de dimensão nacional, o das diretas já.
“Não há qualquer semelhança entre os movimentos. Eu não lembro de uma camisa da seleção na Praça da Sé ou no Anhangabaú, movimentos que reuniram mais de um milhão de pessoas. As pessoas vestiam a camisa do Brasil”.
O Brasil estréia na Copa do Mundo domingo, contra a Suíça, às 15 horas (horário de Brasília). *Diário do Centro do Mundo