General que comanda ação diz que ‘limpeza’ da comunidade depende de moradores. Outros confrontos foram registrados à tarde em várias comunidades.
Tiros voltaram a ser ouvidos no início da tarde deste sábado (23) na Rocinha, comunidade na Zona Sul do Rio. Quase mil militares estão na comunidade desde sexta-feira (22) para conter uma guerra entre traficantes rivais. Há relatos de que os criminosos fugiram para as mata. Também houve confronto em várias regiões do Rio.
O novo tiroteio na Rocinha ocorreu enquanto autoridades de segurança concedediam entrevista coletiva no Centro Integrado de Comando e Controle (CICC), para fazer um balanço das operações iniciadas devido à guerra de traficantes na Rocinha. Desde a madrugada, ações coordenadas efetuaram prisões e apreensões.
Balanço de prisões e apreensões: 5 presos;16 fuzis;12 granadas e 2 pistolas.
Os representantes da segurança afirmaram que as ações na favela serão realizadas por tempo indeterminado e pediram ajuda de moradores para achar os criminosos, que teriam fugido para a floresta.
“A comunidade é que detém essa oportunidade de contribuir para que esse trabalho se perpetue no tempo. Eles [os moradores] são as pessoas que podem nos ajudar a limpar por um longo tempo a comunidade”, declarou o general Mauro Sinott, comandante da 1ª Divisão de Exército.
Já o secretário de Seguran, Roberto Sá, disse que um pedido para revistar casas de moradores durante a ocupação militar na Rocinha está sendo elaborado pela polícia, mas ainda não foi entregue ao Poder Judiciário.
O general Mauro Sinott admitiu que na sexta-feira, durante as primeiras horas do cerco à Rocinha, houve certa restrição no acesso de moradores à comunidade. Alguns relataram ao G1 que estavam impedidos de circular em carros e motos.
“Estava havendo um controle. Isso trouxe algum transtorno e momentaneamente houve algum impedimento a esse acesso, mas já voltou à normalidade”, assegurou.
G1
Boatos
O secretário falou também sobre boatos acerca da fuga e de um possível ferimento do traficante Rogério 157, que disputa o controle do tráfico de drogas na Rocinha com Antônio Bonfim Lopes, o Nem – preso na penitenciária federal de Porto Velho (RO). “São boatos, apenas boatos.”
“Há muitos boatos. Ao longa da madrugada não foi diferente. Ora notícia que saiu, ora que está tentando sair, mas a gente não descarta nenhuma hipótese e estamos atentos a elas”, disse o secretário.
O general Sinott avaliou que foi feito “um trabalho muito bom, com bom rendimento e com excelente integração”, e disse que depende da população a garantia de um trabalho eficaz e permanente no combate à criminalidade na Rocinha durante e, principalmente, após a atuação das forças militares na comunidade.
“A comunidade é que detém essa oportunidade de contribuir para que esse trabalho que estamos fazendo agora se perpetue ao longo do tempo”, enfatizou.
A contribuição principal dos moradores, segundo Sinott, é a denúncia às forças de segurança sobre a atuação de criminosos. “Eu não posso retirar o medo das pessoas [de denunciarem]”, ressaltou o general.
Sinott afirmou ainda que, por enquanto, será mantido o efetivo de 950 homens do Exército na operação. “Os resultados positivos desta madrugada indicam que nosso trabalho está sendo proveitoso e que, por isso, deve ser mantido”, afirmou. “Nós não temos um prazo para sair. Estamos tendo um bom rendimento das operações.”
Em relação à prisão do traficante Luís Alberto Santos de Moura, conhecido como Bob do Caju, na Ilha do Governador, e à apreensão de dez fuzis no Caju, em ações coordenadas, o delegado Maurício Mendonça, chefe da Delegacia de Roubos e Furtos (DRF) da Polícia Civil, afirmou que as ações foram precisas e que não houve confrontos em nenhuma delas.
Bob do Caju, que estava foragido desde o ano passado, foi preso por associação ao tráfico. Os fuzis apreendidos logo após a prisão do traficante estavam identificados com um adesivo que simboliza o grupo criminoso liderado por ele.
“As investigações continuam, com o objetivo de saber se esse armamento seria empregado na Rocinha e se foi empregado no último domingo [na invasão criminosa à comunidade] pelo grupo liderado pelo preso”, destacou Mendonça.
O delegado Marcelo Martins, chefe do Departamento Geral de Polícia Especializada (DGPE), afirmou que há indícios suficientes para apontar participação “direta ou indireta” de Bob do Caju na invasão da Rocinha. Isso porque o grupo que ele comanda pertence à mesma facção criminosa do traficante Nem, de quem teria partido a ordem de invasão.
Segundo a polícia, Nem quer retomar o território que foi dominado por Rogério Avelino da Silva, o Rogério 157, dissidente de sua facção.
Cerco policial em túnel, prisões e armamento apreendido
A primeira ação dos militares nesta madrugada ocorreu por volta das 4h30. Quatro criminosos tentaram furar o cerco de Exército e foram presos.
Com eles, havia um fuzil AK-47 com numeração raspada, quatro carregadores, uma pistola Glock 9mm com dois carregadores, munição, dois radiotransmissores, documentos, cadernos de anotações e pequena quantidade de drogas e dinheiro em espécie.
Um quinto homem chegou a ser preso, mas depois a polícia informou que se tratava de um motorista que havia sido rendido pelos criminosos. Ele prestou depoimento e foi liberado.
Em outro caso, houve intenso tiroteio. O Túnel Zuzu Angel, que faz a ligação entre as zonas Sul e Oeste da cidade, foi interditado nos dois sentidos por cerca de uma hora. A via foi liberada às 5h36.
A Polícia Militar esclareceu que o Batalhão de Operações Especiais (Bope) fez um cerco na saída do túnel para interceptar criminosos que eram perseguidos por policiais do 23º BPM (Leblon). Os criminosos estavam em um táxi e transportavam armamento pesado. O taxista conseguiu fugir se jogando do carro em movimento.
Os criminosos conseguiram fugir do cerco feito pelo Bope, mas o arsenal que transportavam foi apreendido: cinco fuzis calibre 7.62, sete granadas e mais de dois mil cartuchos de calibres diversos, além de porções de maconha e cocaína.