Peça chave nas tratativas para o acordo de delação premiada com o Ministério Público Federal (MPF) no âmbito da Operação Lava Jato, o bilionário e maior acionista da empreiteira OAS, César Mata Pires, morreu nesta terça-feira (22) aos 67 anos. Ele sofreu um infarto fulminante enquanto caminhava pela pista de cooper do clube do Estádio do Pacaembu, na Zona Oeste de São Paulo.
A OAS é citada no rol de empresas acusadas de formarem um cartel para fraudar obras da Petrobras. Como ainda não havia firmado os termos de cooperação nas investigações, seus depoimentos à Procuradoria Geral da República (PGR) sequer foram gravados em vídeo.Com seu falecimento, as investigações sofrem prejuízo expressivo, já que ele ainda poderia revelar fatos e dados que tinha com exclusividade.
DENÚNCIAS – Em 2015 a Justiça Federal em Curitiba condenou a cúpula da empreiteira por cometer crimes em contratos e aditivos da OAS com a Refinaria Getúlio Vargas (Repar), no Paraná, e com a Refinaria Abreu e Lima (Renest), em Pernambuco.A partir da investida judicial, a companhia passou a dar sinais de enfraquecimento e chegou a pedir recuperação judicial. O Grupo OAS, que tinha cerca de 120 mil funcionários em 2013 – antes da Lava Jato – reduziu seu quadro para 70 mil no fim de 2015 e, em março deste ano, o número era de apenas 35 mil.
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BILIONÁRIO – César cravou seu nome entre as figuras mais afortunadas do mundo no ano de 2014, quando a Revista Forbes registrou seu patrimônio em 1,55 bilhão de dólares.Sua ascensão foi associada às obras da Copa do Mundo e das Olimpíadas Rio 2016, já que a OAS foi uma das maiores vencedoras das licitações para construção de equipamentos para os eventos, como as arenas das Dunas, em Natal, e Fonte Nova, em Salvador.
INÍCIO DOS NEGÓCIOS – Foi em solo baiano que César iniciou em 1976 sua jornada de projeção entre os gigantes da construção civil do país. Naquele ano ele se juntava a Durval Olivieri, seu antigo colega na Odebrecht – onde trabalhou no início da carreira -, para criar a Olivieri, Araújo e Suarez Engenheiros Associados.
FAMÍLIA E ARRANJOS POLÍTICOS – À época, Mata Pires conheceu o então governador da Bahia, Antônio Carlos Magalhães, que o apresentou à sua filha Tereza Magalhães. Anos depois o empresário casou-se com ela e entrou oficialmente para a família Carlista.Com ACM no comando político e administrativo do estado, César não escapou de trocadilhos “Obrigado, Amigo Sogro” e “Obras Arranjadas pelo Sogro”, justamente pelas suspeitas de que sua empreiteira era beneficiada com os atos da gestão do sogro na Bahia e ainda no Senado Federal durante a ditadura.ACM negava o favorecimento empresarial e dizia que a relação entre eles limitava-se aos contornos familiares. As relações, contudo, não eram harmoniosas, especialmente nos últimos anos de vida de ACM, quando já se acirravam as disputas em torno dos direitos pela herança.Antônio Carlos Magalhães morreu em 2007 e deixou herança de R$ 500 milhões. As brigas pela partilha provocaram grande desentendimento entre Tereza e os irmãos Luís Eduardo Magalhães e Antônio Carlos Magalhães Filho. Em 2013, após longo embate, Tereza e o marido César Mata Pires abriram dos direitos pelo dinheiro.