Blog do Jorge Amorim

Por que um presidente ilegítimo e impopular como Michel Temer continua a nos governar?

A pesquisa do Ibope divulgada hoje deveria selar o destino de Michel: fora do Palácio do Planalto.

Quando conspirava contra a titular do cargo, Dilma Rousseff, ele mesmo disse que não era possível governar com 8% de aprovação. Como ele, com 5%, consegue?

Temer tem no Congresso Nacional o controle suficiente para se manter no cargo – e vai continuar, apesar da denúncia da Procuradoria Geral da República.

E no Parlamento não se constrói hegemonia sem abrir os cofres.

Pode ser na forma de emendas, como as liberadas para o deputado Sérgio Reis, para quem Temer serve de menino da porteira – não só a ele, mas a outros parlamentares.

Temer mantém a porteira aberta, para a boiada passar – nesse caso, a comissão que o parlamentar recebe das empresas responsáveis por obras que o dinheiro das emendas vai pagar.

Mas isso é uma fração do que corre nos subterrâneos de Brasília.

Quando era deputado pelo PMDB, José Aristodemo Pinotti participou da reunião em que Michel Temer e Luiz Carlos Santos anunciaram o apoio a Fernando Henrique Cardoso.

“Eles comunicaram que cada deputado receberia 50 mil reais/mês e o partido teria dois ministérios porteira fechada”, disse Pinotti, numa conversa que tivemos logo depois de uma entrevista que realizei pela Globo – na época, Pinotti estava empenhado em manter Celso Pitta afastado da prefeitura, com a posse do vice, Régis de Oliveira.

Por Joaquim de Carvalho

Pinotti diz que, numa bancada de mais de 70 parlamentares, só ele e mais dois não participaram do acordo.

Esse tipo de apoio parlamentar foi radiografado, de alguma, pelo processo do mensalão, já no governo Lula.

Ninguém constrói maioria parlamentar no Brasil, seja na Câmara Municipal de Serra da Saudade, em Minas Gerais, o município com o menor número de habitantes, ou na de São Paulo, a maior cidade do país, sem abrir o cofre.

Isso explica por que, em São Paulo, por exemplo, o preço médio do voto custa a cada vereador 75 reais. No final das contas, uma campanha vitoriosa sai por R$ 2,25 milhões.

Alguém paga essa conta e garante a vida de rico aos eleitos.

Em geral, o dinheiro da propina sai dos maiores fornecedores – no caso dos municípios, ônibus ou lixo com certeza.

No plano federal, o mercado é mais amplo.

O ex-deputado Pedro Correa, do PP, relatou à Polícia Federal que o banqueiro Olavo Setúbal esteve, em pessoa, no plenário da Câmara dos Deputados quando estava sendo votada a emenda da reeleição, no governo de Fernando Henrique Cardoso.

Para cada um que votava sim, ele dava um papelzinho que autorizava um doleiro de Brasília a entregar a propina.

Fernando Henrique e a família de Setúbal, já falecido, negaram. Mas Fernando Henrique conta, em seu “Diários da Presidência”, que Setúbal estava em Brasília no dia da votação da emenda.

E empenhado.

Segundo FHC, Setúbal achou espantoso que ele não estive tenso nem que cuidasse, naquele dia, exclusivamente das articulações para a aprovação da emenda.

FHC não diz, mas não precisava. Empresários como Setúbal faziam isso por ele.

Setúbal tem o cofre, político como Temer, a chave.

Por sinal, quem comandou a sessão que aprovou a emenda da reeleição foi ele, o Michel, na época presidente da Câmara.

Antes que se demonize a política, na pregação a favor do mercado, que fique claro: não é o Estado responsável pelas mazelas, mas quem se serve dele, o mercado à brasileira – meritocracia é conversa para negar direito a pobres.

Só quem tem a chave desse mercado consegue ter o apoio vigoroso do Congresso Nacional.

Nada disso se sustentaria se a população fosse à rua reivindicar um país com decência na política.

Mas quem foi à rua protestar contra a corrupção se acomodou.

Não era por corrupção, era para derrubar Dilma Rousseff e o PT.

Feito o serviço, de volta à casa, com as panelas no armário.

Para estes, a vergonha de viver num país governado por corruptos é menor do que o ódio ao PT.

E Temer segue tocando a caravana, dizendo que, no governo, faz a vontade do mercado.

 

Por Joaquim de Carvalho


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