“Eles querem o que? Que meu filho precise de comida? E, se precisar, eu vou fazer o que? Meter arma na mão e entrar para o crime. Aí eles dão valor a nós”, disse representante do grupo.
Os artesãos de rua que há vários anos ocupam o chão da praça 9 de novembro para comercialzar seus produtos receberam com um misto de surpresa e indignação a notificação da Secretaria de Serviços Públicos, da PMVC. Eles tem 72 horas para desocuparem a área, com a opção de ocuparem uma de duas áreas oferecidas, a Praça Sá Barreto e a calçada do Mercado Municipal do Bairro Brasil.
Representando o conjunto dos artesãos, o artista de rua Carlos Augusto Junior afirmou ao Diário Conquistense que a ordem é resistir à decisão. Não vamos sair daqui. Vamos ficar na resistência. E se vier polícia não vai bater em nós porque não somos vagabundos. Temos um modo diferente de viver e eles acham que somos errados porque não pagamos impostos”. Na visão do artesão, a atitude foi arbitrária.
“Eu trabalho nesta praça há dez anos. É uma história que tenho nesta praça. Ele chega aqui e me dá um papel, não conversam com a gente, não procuram saber o melhor ambiente para nós, querem nos colocar lá encima, onde não tem movimento nenhum, perto da boca de tráfico, de fumo. A gente já é malvisto, acho que não tem nada a ver colocar a gente perto daqueles ‘cheira tinner’”.
Segundo Carlos Augusto, com esta postura, o governo, a CDL e o Ministério Público acabam levando os artesãos à marginalidade. “Existe uma lei federal que protege o artista de rua, isenta de imposto, e eles vêm com essa lei de posturas municipais, atropelando a lei federal. Isso tá errado. “Não sou hippie, sou artesão de rua. Esse negócio de hippie é para marginalizar a gente. Porque os hippies eram os drogados, os promíscuos e nós não somos
”Blog do Fabio Sena
“Aqui tem pai de família, aqui não tem vagabundo. Eu mesmo tenho três cabeças para cuidar, aluguel, esposa, luz, água, comida, e tiro tudo do trabalho de minhas mãos. Em vou sustentar meus filhos como? Estão querendo nos jogar na marginalidade. Porque eu não sei trabalhar mais para ninguém. Vivo da arte. Pago pensão. Eles querem o que? Que meu filho precise de comida? E, se precisar, eu vou fazer o que? Meter arma na mão e entrar para o crime. Aí eles dão valor a nós”.
Entenda o caso
Já praticamente integrados à paisagem da Praça 9 de Novembro, onde comercializam peças diversas de artesanato – muitas das quais confeccionadas no próprio local da venda – os hippies foram notificados na tarde desta quinta-feira (11) e têm pouco mais de setenta e duas horas para deixarem o local e optarem por dois outros espaços de venda. Foram oferecidas duas alternativas: a Praça Sá Barreto e a calçada do Mercado Municipal do Bairro Brasil.
A postura da Secretaria de Serviços, de notificar os hippies, decorreu de uma determinação do Ministério Público, que acolheu denúncia formulada pela Câmara de Dirigentes Lojistas|CDL. Segundo esta entidade, os artesãos fixados na praça há vários anos estavam causando transtornos a lojistas e transeuntes por causa principalmente de suposto uso de drogas. Teriam se tornado rotineiras as brigas e a necessidade de intervenção policial.
“Apesar da importância desta atividade sob o ponto de vista cultural, é sabido alguns desses artesãos infelizmente tem adotado repetidas condutas que prejudicam todo o comércio da localidade, ou seja, consomem bebidas alcoólicas\drogas com muita frequência, o que potencializa posturas inconvenientes, desrespeitosas, até mesmo assustadora para os consumidores que passam na praça”, afirmou a CDL em documento encaminhado ao MP. Ainda segundo a CDL, tem ocorrido recorrentes discussões entre os componentes do movimento, “com palavras de baixo calão, perturbação dos consumidores e público que transitam pelo percurso, gerando assim queixas que são direcionadas aos lojistas. Brigas são rotineiras entre eles, e algumas necessitam de intervenção policial”. Seriam comuns ações de vandalismo, como danificação de fechadura de portas, além de constrangimento a cidadãos, consumidores e empresários”. // Fábio Sena . Diário Conquistense.