Para o dia 28 de abril de 2017 está marcada uma greve geral em todo o Brasil. A “reforma” da previdência e o projeto de terceirização, propostos pelo governo de Michel Temer e apoiados pela maioria do Congresso Nacional, motivaram a convocação por parte dos sindicatos, centrais sindicais e movimentos sociais. Ainda não se sabe a amplitude que terá a greve, sua necessidade é indiscutível. Há 100 anos, em julho de 1917, eclodiram greves capitaneadas por anarquistas na cidade de São Paulo, que culminaram em uma greve geral que paralisou a capital, espalhando-se depois pelos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul.
A chamada Greve Anarquista de 1917 foi considerada a primeira greve geral do Brasil. Ao longo de meados do século XIX, até a década de 1910, as primeiras greves se restringiam a categorias isoladas de operários da embrionária indústria brasileira. A partir da abolição da escravatura, em 1888, os pequenos e grandes empresários da época passaram a utilizar mão de obra estrangeira e assalariada para substituir os escravos. Os estrangeiros, na maioria italianos, portugueses e espanhóis, deixavam sua terra natal em busca de oportunidades, para fugir da pobreza e de eventuais perseguições. Traziam consigo as ideias que começaram a dominar o pensamento europeu a partir da Revolução Francesa de 1789, entre elas, as de liberalismo, socialismo, comunismo e anarquismo. Foi nesse contexto de intercâmbio cultural que floresceram, no seio da nascente classe trabalhadora brasileira, os conceitos de sindicato, direitos trabalhistas, luta de classes, livre-mercado, etc.
Nas décadas de 1900 e 1910, o sindicalismo mundial era disputado pelas vertentes socialista, comunista e anarquista. Desta última surgiu o termo “anarcossindicalismo”, que se caracterizava por uma atuação direta dos sindicalistas na organização dos trabalhadores, seja nas fazendas ou nas fábricas, sem um caráter institucional. Então, em 1917, com a difusão dessas ideias pelos imigrantes europeus, os princípios do anarcossindicalismo ganharam visibilidade e força no Brasil, justificando o título de Greve Anarquista.
- Fonte:Outras Palavras
Nesse período, não havia no país uma legislação que protegesse ou garantisse direitos aos trabalhadores, apenas leis avulsas que tangenciavam a questão trabalhista. Na cidade de São Paulo, por exemplo, trabalhava-se nas fábricas de 11 a 16 horas por dia e a maior parte da mão de obra era composta por mulheres e crianças. A exploração intensiva do trabalho e o emprego de mão de obra feminina e infantil propiciava grande margem de lucro ao empresariado emergente. No entanto, a prosperidade da burguesia industrial não se refletiu em melhorias nas condições de trabalho insalubres enfrentadas pelo operariado. Greves ou reivindicações trabalhistas eram encaradas pelo governo e pelas classes dominantes como “caso de polícia”. Assim, além das jornadas de trabalho extenuantes e das condições precárias de trabalho, operários, mulheres, crianças, imigrantes e ex-escravos que trabalhavam nas fábricas ainda tinham que suportar o alto custo de vida e a miséria que se alastrou pelo Brasil durante a República Velha.
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