“Eu sou uma daquelas pessoas que sempre continuará buscando o melhor para Barra do Choça, porque esta é uma terra abençoada e por ela sempre irei lutar”…
Jornal do Dária (JD) entrevista o prefeito Oberdam Rocha, que comenta, dentre outros assuntos, sobre sucessão municipal, oposição, sindicatos, futuro político e sobre a sua relação com Barra do Choça. Equipe responsável pela matéria: Aldênia, Micaele, Aline, Jaqueline e Maurício – 3º C Noturno.
Prefeito Oberdam Rocha sobre a sua participação nas eleições em 2018: “Embora tenha espaço a ser preenchido, tem que ser algo para a gente estar avaliando nesse processo”.
Oberdam Rocha Dias, 60 anos, está completando neste mês de dezembro 16 anos à frente da Prefeitura de Barra do Choça, período dividido entre quatro mandatos. É, sem dúvida, o político que mais tempo esteve conduzindo os destinos do município. Casado com a vereadora Demi Melo, pai de dois filhos, o prefeito recebeu a nossa equipe em sua residência, no Bairro Bom Retiro, para nos conceder esta entrevista. Dentre outros assuntos, comenta sobre as dificuldades enfrentadas junto à Administração e os avanços obtidos. Também fala sobre a oposição e detalha o seu futuro político.
Jornal do Dária – Prefeito Oberdam Rocha, o senhor assumiu em 2009 com o lema: “Barra do Choça volta a sorrir!”. No seu ponto de vista, o objetivo foi atingido? Algo deu errado? O que faltou para que este slogan superasse um mero recurso de marketing?
Prefeito Oberdam Rocha – Para entendermos o slogan “Barra do Choça volta a sorrir”, nós temos que recordar o que estávamos vivenciando no período anterior a nossa gestão. Com a queda do FPM [Fundo de Participação dos Municípios], de 2.2 para 1.6, a partir do Censo de 2007, Barra do Choça entrou em um período de desestruturação e recebemos um município em que, a partir do mês de setembro, houve ações judiciais para pagamento de servidores que passaram a ser coordenadas pela Justiça.
Houve um sucateamento das estruturas nas áreas de educação e saúde e a questão da falta de limpeza pública e coleta de lixo, dentre outros graves problemas. Diante desse quadro, principalmente daquele período em que as pessoais viviam ou estavam diante de um clima de pessimismo, nós criamos o slogan “Barra do Choça volta a sorrir”. O intuito era justamente o de atingir uma motivação e buscar fazer com que, através desse slogan, pudéssemos corrigir essas situações.
Para isso, tivemos que realizar uma redução da estrutura organizacional em termos de cargos e fizemos as adequações para que o município pudesse voltar a pagar os seus compromissos em dia. Levamos cerca de nove meses para alcançarmos o ajuste financeiro necessário para conseguimos a Certidão Negativa de Débitos e podermos buscar os convênios externos. O slogan e o lema foram algo que naquele momento mostravam essa realidade e a partir daí viesse um processo de obras e serviços que trouxe para Barra do Choça algo que nos permitiu, nesse período, sermos reeleitos. Creio que alcançamos, sim, esse objetivo.
Por José Amorim
Acompanhe a entrevista na íntegra…
JD – Prefeito Oberdam 2016 encerra o último ano de suas duas gestões que duraram, ao todo, oito anos. No seu ponto de vista, qual teria sido a grande marca deixada por esta Gestão?
Oberdam – A questão dos dois mandatos de 2009 a 2016 que estão se encerrando eles vieram nesse processo diferenciado que nós já mencionamos anteriormente que foi termos recebido o município endividado. Em 2009 tivemos uma crise mundial com consequências diretas para a nossa economia. Em 2013 tivemos outra crise que se estende até hoje, que é uma crise em nível nacional. Com isso, você encontra dificuldades e acaba por ter que decidir entre administrar e fazer algo que você deseja, ou ter que se readequar para aquilo que é possível e que está ao nosso alcance. Vontade, desejo, projeto e proposta existem muitas. Porém, a necessidade essencial de você manter a limpeza, de manter o pagamento dos servidores em dia e a saúde e a educação funcionando, tornam-se prioritárias. Um dos principais compromissos que assumimos, estamos cumprindo: honrar o pagamento, em dia, da folha de servidores, incluindo férias e 13º salário, ao longo de todos esses 96 meses de gestão. Esse foi um período de grandes dificuldades que surgiram e que o gestor, dentro da sua capacidade e da sua responsabilidade procurou fazer o que é básico, mas que é essencial para que o município mantivesse o atendimento às necessidades básicas da população.
JD – Nas eleições de 2016, o candidato Naelton Freitas, apoiado pelo senhor, não conseguiu a eleição para a Prefeitura de Barra do Choça, sendo derrotado pelo candidato da oposição, Adiodato Araújo. Quais fatores poderiam explicar, no seu ponto de vista, esta derrota do seu grupo político?
Oberdam – Fazemos parte de um grupo político que está há 20 anos no poder. Eu como gestor, ao longo de quatro mandatos, além do mandato do ex-prefeito Gesiel Ribeiro. O desgaste é natural em cada ciclo político, acontecendo normalmente em nível nacional ou a nível regional e municipal. Tivemos que lançar um candidato novo, para o qual não é fácil fazer essa transferência de voto num período tão curto, tivemos, justamente esta dificuldade. Mas eu diria que esse processo de mudança não está limitado a Barra do Choça. Para você ter uma ideia, na Bahia foram 82% de município cujos prefeitos não conseguiram se reeleger, ou fazer seu sucessor. Um índice altíssimo. A nível regional, tivemos vários municípios, inclusive Vitória da Conquista. A nível de Brasil, da mesma forma. No ano passado, ainda não tínhamos um candidato. Naelton [Freitas], ao ser projetado como candidato para disputar eleição, a oposição tinha como certa que seria uma vitória fácil, com a margem de votos bastante elevada. Mas o grupo conseguiu, através de sua discussão interna e de uma forma democrática, criar meios para que pudesse realizar as prévias, escolhendo o nome de Naelton e Ricardo [Amorim] e que diante de um processo curto mais também bastante motivado, conseguiu disputar até o último dia e levar o grupo a esse enfrentamento. Por consequência natural de um processo eleitoral, perdemos a eleição quando abriram as urnas, mas tínhamos certeza que estávamos competindo até o último momento.
JD – Uma das muitas críticas que o senhor recebeu da oposição foi a de que não reside mais em Barra do Choça. Prefeito, afinal de contas, isso é verdade ou apenas “intriga da oposição”? E por que a percepção que a população tem, nos últimos tempos, é a de que o senhor não está mais presente junto a ela?
Jornal do Dária – Ao receber vocês para esta entrevista em minha casa, já estaria respondida esta pergunta [risos]. Mas eu poderia chamar aqui uma pessoa para dar um testemunho, que é Eliana, que mora e trabalha conosco há 20 anos. Assim também como as pessoas que tiveram ao longo desses anos nos visitando, os nossos vizinhos comprovariam que eu nunca tive necessidade de sair de Barra do Choça por estar no mandato. Natural de Caatiba, aos 17 anos fui atuar no Exército no Rio de Janeiro. Morei em Salvador, onde conheci e me casei com minha esposa Demi Melo, vindo para Barra do Choça. Até hoje vivemos aqui, onde tivemos oportunidade de criarmos nossos filhos. Vivo com muita alegria, com muito prazer e satisfação e me sinto muito feliz e acolhido por estar nesse território. A questão de não estar tão presente junto à população, vai de uma situação política de momento. Se a administração não possui hoje a capacidade que tinha nos primeiros anos de realizar e de fazer, a capacidade do Gestor de se deslocar e encontrar a população para essas demandas, também fica comprometida. Quando você lida com dificuldades e principalmente com problemas diários em termos de contenção de gastos, então você fica impedido de visitar por conta das demandas que tem. Às vezes você se retrai, é uma questão natural e isso realmente ocorreu por conta justamente dessa dificuldade. Único período em que eu me afastei de Barra do Choça foi por ter passado um momento difícil, em que meu pai ficou doente, uma doença que veio a ser fatal para ele. Eu tive que afastar para estar junto com a minha mãe, durante um mês, e foi o único período em que eu estive ausente. Moro em Barra do Choça e estarei sempre aqui nessa residência que é a rua que todos conhecem Rua Regis Pacheco número 999, bairro Bom Retiro.
JD – Barra do Choça possui dois sindicatos bastante atuantes: o SINSEB e o SIMPROBAC. Qual avaliação o senhor faz da atuação destas duas entidades durante os seus dois últimos mandatos? O que o senhor espera destas entidades daqui pra frente?
Jornal do Dária – No nosso segundo mandato [2001-2004], fomos incentivadores da criação do primeiro sindicato que foi o SIMPROBAC [Sindicato dos Professores] para que, naquele momento, os professores pudessem ter uma representação legal para dialogar no mandato seguinte diante de uma mudança de gestão que estaria ocorrendo. A partir de 2009, assumimos o compromisso de oferecer para os servidores gerais, os mesmos benefícios que eram destinados aos professores. Com isso, aprovamos, após amplo processo de negociação com o SINSEB [Sindicato dos Servidores], o Estatuto Geral dos Servidores e do Plano do Cargos dos Servidores Gerais. Mesmo assim, enfrentamos várias greves e paralisações. Encerramos essa Gestão em 2016 com a certeza de que toda a pauta que o Simprobac e o Sinseb nos apresentaram foi cumprida pela nossa Administração. Então essa discussão é muito salutar. O que eu espero, porém, é que os sindicatos desempenhem na próxima gestão o mesmo papel que desempenharam na nossa, não só fiscalizando, mas também atuando para a preservação das garantias das conquistas alcançadas ao longo desses anos. Que possam ser também, compreensivos diante da situação econômica que o país está vivendo e que possam ter consciência de que a necessidade de termos a noção de equilíbrio, porque o município não tem essa capacidade de suportar um aumento crescente desproporcional a sua arrecadação. Esse é o ponto: temos de ter noção de equilíbrio e de que, se não tivermos esse cuidado, uma hora dessas, esse “copo” vai quebrar e vai atingir a todos, podendo desestruturar novamente o município. Um município como o nosso desestruturado, para ele se recuperar vai ser muito difícil nessa situação em que o país vive.
JD – Após a eleição, foram realizadas algumas demissões de servidores. Por que isso foi necessário? Foi redução de despesas, falta de planejamento ou alguma forma de punição?
Oberdam – Pessoas que são nomeadas ou terceirizadas são passíveis de ajuste. Ou seja, são contratos feitos de forma temporária para poder, justamente para uma dificuldade, você fazer esses ajustes. Então você tem que ajustar não só o corte dessas despesas de custeio, como de pessoal, dentro daquilo que a Lei permite. Então é uma questão normal em nível de gestões, tanto a nível estadual, quanto federal. Não tem nada de perseguição, porque não estava envolvido diretamente numa campanha e segundo, estamos sempre chamando os servidores explicando os motivos até para poder ajustar um determinado salário ou uma pendência. Então se você não tomar medidas, se você tem continuidade no mandato, passa para o ano seguinte. Como você tem a limitação para o dia 31 de dezembro, ficamos no limite da Legislação vigente.
JD – Em 2004, durante a campanha do então candidato Bráulio Leite à prefeitura de Barra do Choça, concorrendo contra Gesiel Ribeiro, surge em cena, como coordenador de campanha, um personagem político que viria mexer com o cenário da política local. Adiodato Araújo. Qual a sua avaliação sobre este personagem político que agora assumirá a Prefeitura em 2017?
Oberdam – Havia um esgotamento do nosso grupo político a essa continuidade de estar há 20 anos no poder e houve um desgaste natural. Em cima de uma proposta baseada nessa mudança, desde a eleição passada, isso criou uma força em que as pessoas entenderam que era necessário mudar. Portanto, veio a prevalecer a vontade das pessoas. Agora é a fase em que você sai do discurso para a prática e transferir da teoria para o concreto. É a hora de ele conseguir, através daquilo que propôs, por meio daquilo que imaginou, aplicar como plano de governo e apresentar para a população, correspondendo a confiança que lhe foi dada através do voto. Ai, só o tempo vai dizer e dar essa resposta. Eu tenho que dar boa sorte e que ele possa traduzir, na prática, aquilo que propôs no seu Plano de Governo para que venha trazer essas mudanças propostas por ele durante a eleição, e os compromissos assumidos junto à população, sejam cumpridos da forma como foi projetado. É o que nós desejamos, e que ele tenha boa sorte e que complete a missão que ele se propôs no palanque.
JD – Ao deixar a Prefeitura de Barra do Choça, em 31 de dezembro de 2016, quais serão seus planos para o futuro? Há algum convite para participar do Governo Rui Costa? Tem planos eleitorais para 2018 e 2020?
Oberdam – Ao encerrar o mandato agora no final de 2016 nós estaremos buscando um período de um pequeno recesso para poder concluir a nossa prestação de contas. Temos os meses de janeiro e fevereiro para podermos fechar as contas e encaminhá-las para o TCM [Tribunal de Contas dos Municípios]. Em relação ao Governo do Estado, nós iremos buscar essa conversa com o meu partido, o PP [Partido Progressista] e que faz parte do governo Rui Costa. Existem diversas secretarias, órgãos e setores dentro do Estado que estão sob o controle do partido. Assim também sempre tivemos uma excelente relação com o governador e colocando, justamente o nosso nome para essa conversa para que possa nos dar oportunidade de trabalhar e ser útil a administração do Governo. Também, devido ao conhecimento e relacionamento na região, nós vamos buscar, junto à iniciativa privada, atividades que possam gerar uma renda para a sobrevivência da nossa família. A questão da eleição de deputado, isso depende dessa conjuntura política. O Brasil vive uma crise política sem precedentes. Isso tudo nos deixa perplexos e, ao mesmo tempo, preocupados em até onde isso vai parar. Outra coisa é a aprovação de uma legislação eleitoral compatível com a realidade. É um processo que vai acontecer nesse ano de 2017, porque hoje temos um fator muito limitante que é o fator econômico. Para eleger deputado estadual ou federal a necessidade de ter uma grande soma de recursos. Embora tenha espaço a ser preenchido, tem que ser algo para a gente estar avaliando nesse processo. Quanto à questão de 2020 eu sempre coloquei na mão de Deus e o futuro pertence a Deus. A gente tem que trabalhar no dia a dia mês a mês, mas eu creio que de certa forma eu já Cumpri a minha missão em Barra do Choça. Então, me sinto muito realizado e só tenho que agradecer imensamente às pessoas por terem confiado em mim. Eu sinto que já cumpri a minha missão. Este é o momento de fazer a renovação e continuar tendo com que outras pessoas possam buscar essa oportunidade de trazer novas propostas.
JD – Qual mensagem final que o senhor gostaria de deixar para a população de Barra do Choça?
Oberdam – A mensagem final é apenas uma mensagem de agradecimento. Quero agradecer a todos aqueles que, de forma direta ou indireta, contribuíram para o nosso mandato. Quero agradecer a Deus por ter me dado esta missão. Procurei me dedicar de uma forma diária, pensando no melhor para Barra do Choça. Não fiz nada sozinho, eu fiz com uma equipe de servidores que me ajudou a fazer todo esse trabalho. Agradeço a cada um daqueles se engajaram conosco nessa missão, incluindo os vereadores. Então, só tenho a agradecer e pedir perdão por aquilo que eu não consegui realizar, ou por aquilo que eu não consegui atender às expectativas das pessoas. Às vezes nos falta a capacidade de realizar por circunstâncias alheias à nossa vontade, mas que eu tentei e continuarei tentando até os últimos dias, para fazer o melhor para nossa população. Eu sou uma daquelas pessoas que sempre desejei e sempre continuarei buscando, de forma direta e indireta, o melhor para Barra do Choça porque Barra do Choça é uma terra abençoada e por ela sempre irei lutar. Essa é a nossa mensagem fi