Com a criação da força-tarefa dos Ministérios Públicos, objetivando acabar com o fenômeno das pirâmides financeiras na internet, o mercado do suposto “marketing multinível” online no Brasil está com seu futuro seriamente ameaçado. Casos como o bloqueio da Telexfree e da Bbom desencadearam uma onda de desconfiança nos interessados em investir neste tipo de negócio. Empresas ainda abertas, tem dificuldades em honrar seus compromissos, enquanto são bloqueadas, uma a uma. A “bola da vez”, nesta semana, foi a “ADS Gold”.
Criada por sócios na cidade de João Pessoa, capital da Paraíba, a ADS Gold se auto-proclama “agência de publicidade 100% brasileira, voltada para o marketing online, e com serviços exclusivos pela internet”. Para participar, o interessado deve pagar valores em pacotes de adesão, afim de obter acesso a uma área chamada “back office”, onde o mesmo assiste a anúncios publicitários, e de onde supostamente vem a sua remuneração. Um sistema bem semelhante ao da “Mister Colibri”, outra empresa de MMN, que fez muito sucesso entre 2011 e 2012, mas que deixou milhares de pessoas no prejuízo. Motivos suficientes para despertar a atenção do Ministério Público, e iniciar investigação silenciosa sobre uma suposta prática de pirâmide financeira, dentro da ADS.
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As coisas iam bem, pois muitas pessoas acreditaram no projeto e investiram pequenas, médias e grandes quantias na ADS Gold, com a promessa de obterem um lucro fora dos padrões da economia convencional, apenas assistindo vídeos de propaganda, de marcas que supostamente pagavam por estes espaços no site da empresa. Entretanto, com o bloqueio das MMN Telexfree e Bbom, começou a diminuir o interesse nos novos investidores e, proporcionalmente, sua desconfiança em aplicar dinheiro em uma empresa com padrões similares. Assim, o dinheiro que entrava passou a perder volume e robustez, levando a ADS Gold a ter sérias dificuldades em honrar compromissos com seus “empreendedores”, reduzindo inicialmente o intervalo entre os pagamentos, e até mesmo deixando de pagar outros, como forma de contornar o problema.
Carros de luxo eram usados para atrair interessados em aderir ao sistema
No último mês de agosto, a ADS Gold, após alguns ajustes, decidiu inadvertidamente transformar todo dinheiro nos paineis de seus associados em “créditos”, provocando enorme descontentamento entre eles. Imediatamente, as redes sociais foram bombardeadas com mensagens de protesto e acusações de que a empresa havia decidido, de forma “oculta e unilateral”, mudar as regras do jogo. Desconfiança generalizada tomou conta da rede. Pessoas passaram a se movimentar no intuito de forçar a empresa a voltar atrás e efetivar a remuneração, como era feita antes. Pressionada, a ADS Gold chegou a criar um cronograma de pagamentos, dando prioridade àquelas pessoas que não haviam tido nenhum recebimento, após pagarem pelos pacotes de adesão ao plano, em valores que iam de R$ 100 a R$ 2.850. Ou seja, pela proposta, antigos divulgadores não receberiam nenhum centavo até que tudo se normalizasse.
Para piorar tudo, em 28 da agosto, a empresa recebeu duas notificações, uma da Caixa e outra do Itaú, informando que suas contas, naqueles bancos, haviam sido bloqueadas por ordem judicial, assinada pelo juiz Miguel de Britto Lyra Filho, 3ª Vara Cível de João Pessoa (PB). Nos paineis de acesso a dados dos investidores (back offices), no site da ADS Gold, passou a constar um aviso confirmando que estas contas estavam de fato bloqueadas judicialmente, mas que medidas estavam sendo tomadas para reverter a decisão. Foi o suficiente para criar uma nova movimentação nas redes sociais, principalmente pelo Facebook. Nele foi criado um grupo “Queremos Respostas”, onde os divulgadores da ADS Gold se articulam para entrarem com ações judiciais coletivas, contra empresa, em várias cidades, como forma de garantir a devolução de seus investimentos.
Luxuosa sede da ADS Gold em Vitória da Conquista, Bahia
Neste momento, estes investidores se queixam de que os sócios e líderes da ADS Gold simplesmente “desapareceram” e que poucas informações oficiais são divulgadas. Em Vitória da Conquista, existe uma grande rede de afiliados da ADS Gold. Estima-se que a capital do sudoeste baiano seja o 2º maior campo de atuação desta empresa no país, perdendo apenas para a própria sede, em João Pessoa. Fontes informaram a nossa reportagem que os líderes são os mesmos da antiga rede “Mister Colibri”, que lesou milhares de pessoas em 2012, na cidade. Segundo estas fontes, a maioria destes líderes já deixou Vitória da Conquista, temendo represálias por parte de investidores, que estão com todas as suas economias presas nesta MMN. Pessoas se queixam por terem vendido bens, como imóveis e carros, feito empréstimos em bancos, para participarem do sistema, e que agora não sabem como honrar seus compromissos. Existem casos de pessoas devendo a agiotas, além de divulgadores que também abandonaram a cidade, após terem cadastrado toda família. Vídeo oficial mostra como o sistema funciona:
A ADS Gold é mais um triste episódio na falta de regulação das autoridades, que permitiu o avanço destas novas redes piramidais, que adotaram a falsa nomenclatura de empresas “marketing multinível” para obterem credibilidade e a internet, para crescerem de forma espantosa. Nesta onda, centenas de milhares de pessoas, satisfeitas ou não com estas empresas, foram prejudicadas. O Ministério Público e sua força-tarefa já catalogaram mais de 80 similares atuando no Brasil, número que ainda cresce. Líderes das empresas bloqueadas já aparecem na web e nas redes sociais divulgando novos esquemas, criados às pressas, sem nenhuma regulação e com fortes traços de ilegalidade. Aos interessados em colocar seu dinheiro, e suas vidas, nesse tipo de negócio, fica o alerta das autoridades: “Não existe ganho fácil de dinheiro. Se foi fácil pra você, é porque alguém foi prejudicado, para que você fizesse sucesso, nestes esquemas”.