O professor Adão Albuquerque participou da mobilização que levou milhares de pessoas às ruas de Vitória da Conquista, nesta quinta-feira, 2o de junho. Com faixas e cartazes, os manifestantes dispararam suas criticas com ênfase aos políticos e as deficiências no transporte público, educação, saúde e segurança pública. O evento seguiu a agenda de ações que teve inicio em São Paulo e no Rio de Janeiro.
Em entrevista ao Blog do Anderson, o mestre expos o seu ponto de vista desse imbróglio que tem movimentado todo o Brasil e recebendo apoios de diversos brasileiros mundo a fora.
Blog do Anderson: Quem eram os manifestantes que caminharam pelas ruas de Vitória da Conquista?
Adão Albuquerque: São os filhos da classe média, que usam pouco o coletivo, mas não perdem o bonde da moda, e a moda agora é protestar!
Por que o senhor afirma que os manifestantes eram da classe média?
Adão: Porque é a classe que perde com a inflação. Os pobres do Brasil estão resignados na sua miséria assistida pelo governo e os ricos não sofrem com as crises, ao contrário, ganham até dinheiro com elas!
O senhor acha que virou moda protestar?
Adão: Nesse momento, sim. As mídias virtuais deram uma grande visibilidade a esse tipo de comportamento. Mas, como a maioria dos jovens que participam não possuem uma formação política mais sólida, logo perderão o interesse, a não ser que se coloque um trio elétrico com uma banda popular a frente dessas passeatas. FONTE: Blog do Anderson
Nas passeatas LGBT ( Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros) também tem sempre um trio elétrico à frente delas. E por isso que são tão concorridas?
Adão: Em grande parte sim. As paradas gays já tiveram seu papel cumprido de dar visibilidade a causa gay, mas hoje não são mais que um carnaval fora de hora, despolitizadas e patrocinadas pelos governos que se dizem tolerantes, mas que não agilizam as leis que podem realmente transformar isso em verdade.
O senhor acredita que os manifestantes não sabiam pelo que estavam marchando?
Adão: Uma parte considerável, de fato, não. Num dado momento, por exemplo, uma garota começou a gritar histericamente e uma outra perguntou porque e ela respondeu “porque mandaram gritar”. Não houve uma preparação nem mesmo na hora para orientar o protesto! Tinha gente querendo tomar a frente do movimento para satisfazer necessidades pessoais de vaidade política, pessoas que foram jovens no século passado e que não estão entendendo que as demandas são outras. Fiquei feliz em ver os jovens de hoje repudiando essas interferências.
Uma das características atribuídas á estas manifestações é que elas são apolíticas. O senhor concorda com isso?
Adão: Elas são políticas sim, elas podem não ser partidárias, que é outra coisa. Todo movimento social é político e é ilusão achar que estar despolitizado, no sentido de não se discutir partidos e pessoas com mandato é tornar o movimento livre de influências nocivas. A maior arma de protesto é o voto e é nesse sentido que devemos educar nossas manifestações!
O senhor então não acredita na validade destes movimentos?
Adão: Se eu dissesse isso estaria negando todo o meu passado de lutas contra a opressão do FMI, da luta pelas Diretas Já e do impeachemant do Collor, por exemplo. Não só apoio como acho que devem continuar, mas com conhecimento de causa, com leitura, com debate! Essa juventude tem que se sentir responsável pelo presente desse país que é de fato seu futuro. Mas, “brincar” de protestar é só o primeiro passo. Tem que haver formação política. Não ser manipulado é ter sua própria direção e isso só quem dá é o conhecimento.