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Caso Orcione: Advogada das vítimas cobra agilidade na conclusão dos inquéritos; Delegado afirma que existem novidades

Advogada das vítimas cobra agilidade na conclusão dos inquéritos; Delegado afirma que existem novidades

Orcione Júnior, médico suspeito de assédio. Foto: Redes Sociais

Em maio do ano passado, denúncias de assédio envolvendo um conhecido ginecologista e obstetra de Vitória da Conquista surpreenderam a população. Através de um perfil anônimo no Instagram (@diganaovdc) mulheres denunciaram diversas situações de assédio durante consultas com o médico Orcione Júnior. Cerca de 30 mulheres apresentaram uma denúncia formal na Delegacia Especial de Atendimento à Mulher (DEAM), mas a estimativa é que o número de possíveis vítimas seja muito maior.

Relembre o caso

Na primeira denúncia divulgada, a denunciante afirma que esteve no consultório do ginecologista para realizar um exame preventivo e “no início, a consulta estava seguindo com normalidade, até eu achar estranho/desnecessário ele elogiar o meu clitóris”.

“Seu clitóris é um pouco grande, mas é bonito e interessante”, foi o que a moça relatou ter ouvido do médico Orcione Júnior. “A partir daí não tive nem reação para respondê-lo”, acrescentou.

A moça diz que em seguida o médico pediu que ela retirasse a blusa para examinar os seios e que logo depois tentou guiar o braço dela em direção ao pênis dele, “e no primeiro momento ele obteve êxito, pois eu achava que era a posição correta que o braço teria que ficar e nesse momento eu senti que o pênis dele estava ereto”.

Após essa primeira denúncia, várias outras mulheres enviaram mensagens para o perfil, relatando situações semelhantes. Blog do Sena

Desde então, oito meses se passaram sem que o inquérito tenha sido finalizado e encaminhado para o Ministério Público. O Blog do Sena entrevistou a advogada Andressa Gusmão, que está representando 20 vítimas do médico, ela afirmou que não recebeu mais informações oficiais sobre o andamento do caso. Os inquéritos foram abertos de forma individual por opção das vítimas.

Andressa Gusmão, advogada das vítimas. Foto: Blog do Sena

“Cerca de 30 registraram a ocorrência, prestaram seu depoimento, apresentando documentos e testemunhas. Sendo que dessas mulheres, 20 delas são acompanhadas por mim, todas as que nós acompanhamos foram ouvidas até agosto. A última testemunha foi ouvida no mês de setembro, e o suposto acusado prestou depoimento em outubro. Depois disso, nós não tivemos informações de andamento sobre o caso. Chegamos a nos reunir com o Coordenador da Polícia Civil, Fabiano Aurich. Também tivemos, na última semana, com o doutor Marcus Vinícius, que está substituindo doutor Fabiano no período de férias. E tivemos informações com a doutora Decimária Gonçalves, titular da Deam, que essa semana começariam a ser enviados os inquéritos para o Ministério Público oferecer a denúncia formal. Apesar disso, até o momento, nós não tivemos informações oficiais do envio de nenhum dos inquéritos”, afirmou.

A advogada explica que nesse caso o prazo para a conclusão do inquérito é de 30 dias, contudo, esse prazo pode ser estendido, especialmente em virtude do número de acusações. Todavia, nada justifica a demora de meses.

“É um caso muito grave que não pode de maneira nenhuma ficar impune. Nós não estamos aqui pedindo condenação ou antecipação de nada com relação a isso. O que nós queremos é que seja cumprido o processo legal, que sejam cumpridos os prazos, que já foram todos ultrapassados. Nós queremos uma resposta. Nada justifica que 8 meses depois das primeiras denúncias nada tenha saído se quer da delegacia”, disse.

As vítimas e a defesa do médico

Alguns dias após as primeiras denúncias, a defesa de Orcione convocou uma coletiva de imprensa. Durante a coletiva, a advogada citou detalhes médicos das pacientes e afirmou que, caso as acusações não sejam provadas, as vítimas, que são pelo menos 24, serão processadas e será pedida uma indenização. As afirmações da advogada foram vistas como uma tentativa de intimidar e desacreditar a versão das vítimas

Advogada de defesa do ginecologista

A exposição de detalhes de prontuários médicos e tentativa de intimidação por parte da advogada de defesa do médico, além do fato de se tratar de um crime sexual, contribuíram para que muitas vítimas desistissem de prestar queixa.

“Infelizmente, nós temos notícias de que há inúmeras outras vítimas, mas nem todas têm coragem de vir a público, de se expor e de estar vivenciando mais uma vez todo o trauma e está sendo julgada por pessoas próximas e por toda a sociedade. A gente percebeu que na coletiva de imprensa essa postura foi muito demarcada, fazendo acusações, fazendo a exposição de supostos prontuários médicos, intimidando essas vítimas, e muitas desistiram”, avaliou a advogada.

No momento em que a ocorrência foi registrada, as vítimas receberam um ofício para encaminhamento psicológico, contudo, algumas não puderam iniciar o tratamento psicológico por causa de diversos fatores. Algumas vítimas estão muito fragilizadas para relatar novamente esses casos, ainda que para um profissional, outras não residem em Vitória da Conquista.

A punição

 A advogada relatou que várias vítimas ainda sofrem com as sequelas emocionais deixadas pelo assédio. Algumas vítimas desenvolveram transtornos como crises de ansiedade e Síndrome do Pânico, além de problemas dentro de relacionamentos amorosos e familiares.

Mesmo diante dos danos causados, a advogada afirma que, ao menos em um primeiro momento, a luta das vítimas é para que seja feita Justiça. Ainda não foi feito nenhum pedido de indenização.

“Nós não estamos visando uma reparação, embora seja cabível e deverá, sim, ser pleiteada futuramente. No momento, o que nós queremos é a apuração do fato criminoso com a aplicação da lei penal”, disse a advogada.

A sociedade

A advogada relembrou os dados alarmantes dos crimes cometidos contra mulheres. Afirmou que a demora no andamento dos inquéritos é frustrante não apenas no âmbito profissional, mas também na condição de mulher.

Novamente, ela fez um apela para que a sociedade esteja acompanhando o caso e cobrando uma resposta. “Poderia ter sido com qualquer uma. Não é necessário que exista nenhum grau de parentesco para que sintamos a dor do próximo. Peço que a sociedade esteja junto conosco, que não permita que tantos crimes bárbaros passem impune. Ontem foi com elas, hoje pode ser com qualquer uma de nós”, finalizou Andressa.

Nossa reportagem entrou em contato com o delegado Marcus Vinícius, que está à frente da Coordenadoria de Polícia Civil. Sem oferecer detalhes, ele afirmou que existem novidades relacionadas ao caso.

Entramos em contato com a delegada Decimária Gonçalves, que está à frente da Deam, mas não obtivemos resposta.

Nossa reportagem também está tentando entrar em contato com a defesa do médico, mas até o momento, não obtivemos retorno.

 


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