Blog do Jorge Amorim

Brumadinho pode ser maior acidente de trabalho do Brasil

As imagens após o rompimento de três barragens da Vale em Brumadinho (MG) na sexta-feira são registros do maior acidente de trabalho da história do Brasil – e que poderá se tornar o segundo acidente industrial mais mortífero do século 21 em todo o mundo, segundo especialistas e rankings compilados pela BBC News Brasil.

Até o fim da tarde desta segunda-feira, haviam sido contabilizados 65 mortos, e 279 pessoas estavam desaparecidas, de acordo com as equipes que atuam no resgate de vítimas. Após 72 horas do acidente, as chances de se encontrar pessoas vivas sob a lama são mínimas.

Só serão contabilizados como vítimas de acidente de trabalho os funcionários da vale, incluindo os terceirizados. Entre os 65 mortos encontrados também há moradores, mas boa parte das pessoas ainda não encontradas são funcionários da mineradora.

 Segundo o professor de direito do trabalho na Universidade de Guarulhos (UNG) Gleibe Pretti, o maior acidente registrado no Brasil até então tinha sido o desabamento de um galpão em Belo Horizonte – que deixou 69 mortos em 1971.

A segunda maior tragédia do tipo aconteceu em Paulínia (interior de SP), na Shell-Basf. Ao longo de muitos anos de funcionamento (que começou em 1977), os agrotóxicos usados pela Shell contaminaram o solo e acabaram matando 62 funcionários. Mais de mil funcionários também foram afetados. Hoje esses agrotóxicos são proibidos no Brasil.*G1

A terceira foi a tragédia em Mariana (MG), em 2015, que também teve envolvimento da Vale. O rompimento da barragem na região arrasou a região, contaminou os rios e deixou 19 mortos.

O rompimento de barragem em Brumadinho também deve ter um destaque na história internacional. No mundo, o maior acidente industrial dos primeiros 18 anos deste século foi o desabamento de um prédio que abrigava fábricas em Bangladesh, causando 1.127 mortes.

Em muitos dos maiores acidentes industriais da história, porém, o número de vítimas é incerto, pois nem sempre todos os corpos são encontrados e há pouca transparência na divulgação dos dados.

“No Brasil e no mundo, há muito casos não conhecidos. Se a gente falar de Serra Pelada, por exemplo, os garimpeiros costumavam descer por grandes escadas rudimentares. Quando quebrava um degrau em cima, o trabalhador caía sobre os outros. Muitos morriam e eram enterrados ali mesmo. Contam que a Praça dos Três Poderes, em Brasília, é um cemitério de operários pela quantidade de gente que morreu ali. Sem falar na Transamazônica, que tem mortes até hoje. Também só sabemos das mortes na China quando alguém vaza”, afirmou.

Membros do corpo de bombeiros procuram por sobreviventes na lama em Brumadinho — Foto: Adriano Machado/Reuters

O maior acidente de trabalho da história do Brasil, de acordo com os especialistas entrevistados pela BBC News Brasil, ocorreu no dia 4 fevereiro de 1971, quando o teto de um pavilhão de exposições projetado por Oscar Niemeyer desabou, matando 69 pessoas e ferindo mais de cem.

Segundo os especialistas, o acidente ocorreu porque o então governador de Minas Gerais, Israel Pinheiro, queria inaugurar a obra antes do fim de seu mandato. O gestor ignorou os alertas de que o cimento ainda não tinha maturado e ordenou que fossem retiradas as escoras de sustentação da estrutura. Cerca de 10 toneladas de concreto armado desabaram por volta das 11h45, e até hoje há famílias sem indenização.

Um balanço da Organização Internacional do Trabalho (OIT) aponta que 321 mil pessoas morrem por ano no mundo em acidentes de trabalho. O Brasil é o 4º colocado nesse ranking, atrás da China, Índia e Indonésia.

“Isso tem um grave impacto nas contas públicas. Nos últimos cinco anos, o INSS gastou R$ 26 bilhões em indenização. É um dinheiro que é pago como indenização que poderia ser investido em outras áreas”, afirmou o professor da UNG.


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