Blog do Jorge Amorim

Homem que passou 27 anos ‘invisível’, sem poder ir a médico e escola, tira documentos pela 1ª vez e quer estudar: ‘Sonho’

Um morador de Salvador que passou os 27 primeiros anos de vida sendo considerado como “invisível social” por não ter documentos pessoais, e que nunca pode ir ao médico ou frequentar escola por conta disso, conseguiu se registrar e agora tenta, como diz, “correr atrás do tempo perdido” e realizar um sonho de infância: estudar.

Sandro de Carvalho, que mora no bairro de Tancredo Neves, é o caçula de pais humildes que tiveram cinco filhos. Apenas ele, no entanto, não foi registrado quando nasceu, em 1990, porque, como conta, os pais passavam por dificuldades financeiras.

“Eu nasci dentro de casa. O pessoal do fórum falou que eu não era filho dela. Aí, a gente começou a sair e eles mandaram a gente a fazer umas buscas para tirar os documentos, mas a gente não tinha condições de ir para os vários lugares indicados. O tempo foi passando e, depois, comecei a cansar. Fiz 18 anos, e a mesma coisa”, destaca Sandro.

Sem certidão de nascimento, além de ser impossibilitado de estudar ou ir ao médico, o rapaz nunca foi vacinado, nunca votou em eleições, nunca teve conta em banco e nem carteira de trabalho. Durante a juventude no bairro de Tancredo Neves, área onde a polícia faz operação com frequência, disse já ter de se explicar várias vezes a policiais o porquê de não ter documentos.

Atualmente, vive fazendo “bicos” como ajudante de pedreiro, e foi exercendo essa função que a situação dele começou a mudar. Durante um serviço, conta que conheceu uma mulher e que ela ofereceu ajuda.

“Conheci uma mulher, no dia que fui cavar um buraco na casa dela para construir um prédio, contei meus problemas para ela e, graças a Deus, ela me ajudou e olha eu aí com os meus documentos. Felizão da vida”, destaca.

Sandro conseguiu tirar todos os documentos pessoais esse ano e, agora, diz estar pronto para recomeçar a vida. Deixou de fazer parte de uma estatística que aponta que a Bahia tem mais de 90 mil pessoas consideradas “invisíveis sociais”, por não possuírem certidão de nascimento ou carteira de identidade.

Agora, tem planos de seguir carreira artística, mas antes quer fazer o que sempre teve vontade desde pequeno.

“Estudar. Esse é o meu sonho em primeiro lugar. Quero recuperar o tempo que eu perdi nesses 27 anos. É isso que eu quero para minha vida”. *G1


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