Blog do Jorge Amorim

Mobilizados pelo WhatsApp, caminhoneiros baianos aceitam trégua até nova reunião

Rodovia foi desbloqueada; encontro foi marcado para essa terça, no CAB

Enquanto era realizada a negociação para o desbloqueio temporário da BA-526, nas proximidades da Ceasa de Simões Filho, caminhoneiros registravam tudo com vídeos e áudios na manhã desta segunda-feira (28). Em instantes, já circulava em grupos do aplicativo WhatsApp a decisão da categoria de suspender temporariamente a paralisação na rodovia até a reunião com o governo do estado, marcada para as 10h dessa terça-feira (29) na Secretaria da Segurança Pública (SSP), no Centro Administrativo da Bahia (CAB), em Salvador.

Dissipada, a informação chegou aos manifestantes que faziam o bloqueio na Via Parafuso, um dos acessos ao Polo Petroquímico de Camaçari, levando também a suspensão momentânea da greve nesta segunda até o dia do diálogo com o governo.

 

A troca do rádio comunicador pelo aplicativo de mensagens e as ligações via celular mostrar que na Bahia as ações e decisões do movimento grevista estão sendo tomadas de forma organizada. Em Salvador e adjacências as informações são lançadas em três grupos do app, todos com cerca de 260 integrantes – limite máximo. Os grupos são “Unidos Somos Fortes”, formados por caminhoneiros da BA-526 (Cia-Aeroporto), “Rota 99”, composto por grevistas que atuam na BA-099 (Estrada do Coco) e o “Não Passa Nada”, que fazem parte dos caminhoneiros que circulam pela BA-535 (Via Parafuso). São, ao todo, sete pontos de bloqueio que seguem as mesmas orientações. Nesta segunda, segundo a PRF, restavam 40 pontos de bloqueio na Bahia.

“É uma forma prática e rápida de se comunicar e também de deixar todos cientes do nosso passo a passo do movimento no Bahia”, disse o caminhoneiro Arivaldo Xavier Borges, 38, uma das lideranças do grupo que atua na BA-526. *Correioada Bahia

Um dos grupos de mensagens usados pelos caminhoneiros para trocar informações (Foto: Marina Silva/CORREIO)

É através também do WhatsApp que o movimento tem acesso às informações de movimentos grevistas no país. “Temos contato com outras lideranças do Brasil em um outro grupo. Mantemos contatos com articuladores de São Paulo, Santa Catarina e Vitória, por exemplo. É a forma também de mantermos as ações e decisões unificadas, porque juntos somos mais fortes”, declarou Arivaldo.

Cada ponto do bloqueio tem uma liderança que é formada por até cinco pessoas – em Salvador e proximidades são sete pontos da paralisação. “As lideranças conversam entre si, são os articuladores que pegam as informações e detalham para o restante. Isso mostra o quanto somos organizados. Um movimento pacífico, e é por isso que temos o apoio da população”, explicou Arivaldo.

É através principalmente dos grupos do app que o movimento vem adotando alguns procedimentos, como o horário dos bloqueios, que são praticamente simultâneos. “A gente fecha as vias às 5h e libera a partir das 17h todo mundo junto. Todo monitorado via zap”, revelou um dos líderes do grupo que atua na BA-526.

Doações
No refeitório improvisado entre os caminhões tinha pães, sucos, biscoitos, café, leite e manteiga. Tudo fruto de doações. “A gente conta com a compreensão da população que para os carros para dar alimentos, por entender que essa luta é de todos. A população tem trazido todos esses dias garrafas e garrafas de café. Até lugar para tomar banho tem sido oferecido para nós”, declarou Arivaldo.

O CORREIO registrou o momento em que era feita a doação de água e suco aos caminhoneiros. “A gente se sensibiliza com a causa e temos que ajudar com o que podemos”, contou o vendedor ambulante Devaldo Soares Carneiro, 34, que trouxe as doações no porta-malas de um carro.

Reunião
Por volta das 10h, após um diálogo, os grevistas concordaram em suspender a paralisação até as 10h desta terça-feira (28), na SSP. “O que estiver ao alcance do Estado será atendido”, garantiu o coronel Humberto Sturaro, comandante do Patrulhamento Especializado da Polícia Militar, responsável pela negociação.

“Mas se as nossas exigências não forem atendidas, voltaremos a fazer os bloqueios”, avisou Arivaldo, após comunicar aos demais grevistas para desocuparem as vias da BA-526. “Vamos sair com os caminhões, mas não vamos fazer entregas. As cargas permanecerão nos caminhões. Tudo depende de amanhã”, adiantou.

Na noite desse domingo (27), o presidente da República Michel Temer anunciou que vai editar três medidas provisórias para tentar pôr fim à greve dos caminhoneiros. Entre elas, o diesel terá uma redução de R$ 0,46 por litro válida pelos próximos 60 dias. “Sim, mas e o amanhã? Pode voltar tudo como antes. Queremos um prazo bem maior”, declarou Arivaldo.

Outra decisão, prosseguiu, é a edição de uma medida provisória para que seja cumprida em todo território nacional a isenção da cobrança do eixo suspenso dos pedágios. “A gente quer é ver publicado no Diário Federal”, argumentou Arivaldo, sem entender que a medida vale para rodovias federais, estaduais e municipais.

A categoria pede ainda o fim da vistoria anual que avalia as condições dos caminhões que trafegam no país, conforme determinação do Conselho Nacional de Trânsito (Contran). “Antes nunca teve isso. Inventaram isso de uns anos para cá para o governo tirar mais dinheiro dos caminhoneiros, que têm que pagar R$ 450 para ter a autorização para trafegar”, reclamou Arivaldo, justificando em seguida: “Já existe uma fiscalização das políciais Federal e Estadual”.

 


Curta e Compartilhe.


Leia Também