Blog do Jorge Amorim

Conheça a história de Gleici vencedora do BBB 18

A vencedora do BBB 18, a acreana Gleici Damasceno, 22 anos, tem uma história de vida comum a muitos brasileiros, cheia de dificuldades e lutas sem esmorecer. A jovem, que gerou as melhores reações depois de seu retorno à casa, de origem pobre e nascida na área rural, Gleici foi a única pessoa de uma família de dois irmãos, 15 tias, 50 primos a terminar os estudos no Ensino Médio e entrar na faculdade.

Gleici se tornou uma das principais personagens da “casa mais vigiada do Brasil”. Sua vida fora do programa, entretanto, é bem mais simples: antes de entrar para o BBB, por exemplo, a participante dormia na sala da casa que dividia com a mãe e o irmão mais velho. O imóvel fica na periferia do Rio Branco, capital do Acre. Nas redes sociais, a sister se definia como “militante dos direitos humanos”, além de atuar em comitês da Juventude do PT (Partido dos Trabalhadores) no Acre.

Gleici seguiu a trajetória de sua mãe, Vanuzia Damasceno da Silva, e começou a trabalhar muito cedo, aos 12 anos. Para ajudar na renda da casa, ela trabalhava como babá na casa de uma patroa, ganhando R$ 100. Por ser a mais velha entre as filhas mulheres, era ela quem preparava o almoço. Arroz e ovo em muitos dias eram as únicas opções na mesa. Gleici também ficava no pé dos irmãos para não deixarem de ir a escola. Somente na adolescência, Gleici passou a trabalhar para candidatos políticos e a participar de movimentos estudantis e populares.

Após muitas dificuldades, Vanuzia conseguiu alugar uma casa e deixar de morar de favor em quartos cedidos por parentes ou pelo ex-patrão nos fundos do quintal. Nesses espaços, os quatro precisavam se apertar e dormir todos num mesmo colchão no chão. As adversidades persistiram. “A casa era de madeira e tinha cada brecha, que quem passava na rua via tudo dentro”, lembra Vanuzia, sem deixar de encarar com bom humor. Nos fundos havia um “gapó”, como ela chama uma área encharcada onde também se misturava o esgoto. Para evitar o desconforto, Gleici pediu para os trabalhadores, que faziam obras na rua em frente de sua casa, para colocar um pouco de barro no quintal e, assim, aterrar o charco. “Uma vez fui na casa dela e ela me convidou para entrar. E me disse: ‘Pode entrar, não liga para o barro. Pode limpar o pé por aí’”, diz John Sousa Barbosa, 22 anos, amigo de bairro.
As caminhadas para a escola eram mais desgastantes na infância, já que seu único calçado eram as sandálias de borracha. Gleici via as colegas de sala usando dois, três sapatos, calças, e ela só tinha uma calça e ia de sandálias Havaianas. “Eu não tinha condições de comprar. Eu ganhava pouco, tinha que pagar aluguel, luz”.
 Houve época em que a mãe precisava trabalhar em troca de teto e comida para os filhos. Para comprar a casa dentro do “gapó” pediu 5.000 reais emprestados a um tio, e teve de pagar juros de 500 reais por mês. “Eu ganhava um salário mínimo. Quinhentos reais eram para pagar de juro e só me restavam 150 reais”. Nesse período, Vanuzia pediu ajuda aos amigos da igreja para receber donativos e “ter ao menos o que comer”. Como a própria Gleici contou no BBB, havia dias em que ia para a escola sem ter comido nada. Segundo a mãe, mesmo com tudo isso, a filha nunca perdeu o zelo pelos estudos.
Enquanto tinha um emprego no governo acriano — ela foi exonerada ao entrar no reality show da TV Globo —, que lhe rendia um salário de quase 2.700 reais, Gleici o usava tanto para si quanto para ajudar a família. Com o dinheiro, ela conseguia comprar passagens de ônibus, mas procurava economizar. Com a mãe e os irmãos desempregados, ela era a única fonte de renda. Apesar de trabalhar só meio período, ela passava o dia fora para não precisar voltar para casa e depois ir para a faculdade, o que aumentaria o desembolso com transporte. Gleici chegava em casa todos os dias por volta das 23 horas. Como o ponto de ônibus fica distante, a mãe ou o irmão iam buscá-la, para que não corresse o risco de ser assaltada na rua de iluminação precária onde mora.

 

Diante das desigualdades que se colocaram na sua vida, principalmente na infância, Gleici também é um exemplo de superação e luta pelos sonhos – o que a torna uma representante fundamental de sua história e de muitos brasileiros. “Tudo o que passei na vida não me permite baixar a cabeça. Me considero uma vencedora e entrei no BBB porque quero representar histórias como a minha”, disse, ao entrar no jogo.


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